'Cúpula da irresponsabilidade'
19 de dezembro de 2009O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, classificou a conferência de 13 dias em Copenhague como uma "etapa importante" no combate ao aquecimento global. "Talvez não tenha sido o que todos esperavam, mas é um começo importante". Em seu otimismo, o diplomata coreano parece estar sozinho, já que a cúpula, incluído seu magro documento conclusivo de três páginas, vem sendo quase unanimemente descrita como um lamentável fracasso.
O premiê sueco Fredrik Reinfeldt, que atualmente ocupa a presidência semestral do Conselho da União Europeia (UE), declarou-se pouco satisfeito com o "acordo sobre o clima". Além de não ser perfeito, ele não é capaz de deter a ameaça ao clima, observou logo ao fim da conferência, neste sábado (19/12). Porém trata-se de um início e de um consenso entre os principais atores, ressalvou.
O presidente da Comissão da UE, José Manuel Durão Barroso, expressou-se igualmente de forma crítica, confessando que mal conseguia esconder sua decepção. Christoph Bals, diretor político da organização alemã Germanwatch, declarou: "No fim das contas, teria sido melhor a UE não haver apoiado a declaração, aceitando assim o fracasso da conferência". A seu ver, isso ao menos teria possibilitado um "recomeço".
"Cúpula da irresponsabilidade"
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, admitiu ter recebido "com sentimentos ambivalentes" o conteúdo da declaração final de Copenhague. O presidente do Partido Social Democrata e ex-ministro do Meio Ambiente Sigmar Gabriel atribuiu a Berlim parte da responsabilidade pelo fracasso da COP-15. Para ele, é "uma vergonha" Merkel querer descontar a ajuda alemã para combate à pobreza dos gastos com a proteção ao clima internacional.
A líder verde Claudia Roth falou de "uma cúpula da falta de responsabilidade e da cegueira para com o futuro". Um vago resultado, de apenas limitar a 2ºC o aquecimento global, sem estabelecer limites para as emissões de gases-estufa, não representa nada, segundo ela.
"Uma conferência de cúpula que chega ao fim sem medidas vinculativas para a redução do CO2 não teve resultado nenhum, diante da dramaticidade da alteração climática", condenou Roth.
Cenário apocalíptico
Igualmente severas são as críticas dos ambientalistas. O sul-africano Kumi Naidoo, da Greenpeace, se mostrou horrorizado. "Isso é uma traição aos pobres, uma traição aos países especialmente vulneráveis, uma traição às pequenas nações insulares, e uma traição a todos os filhos e netos deste planeta." Para o climatologista Mojib Latif, de Kiel, "na verdade, não se chegou a nada" na cúpula de Copenhague.
Christoph Bals, da Germanwatch, enfatizou a urgência de deter as mudanças climáticas. "Sabemos que nos próximos anos, na verdade até 2015-16, estaremos atingindo o ápice das emissões globais, se ainda quisermos nos manter abaixo da tão evocada meta dos dois graus. Agora ficará muito, muito difícil alcançá-la."
Segundo projeções de institutos independentes como o Climate Action Tracker, os resultados alcançados em Copenhague levarão ao aquecimento do clima global em mais de 3ºC, até o fim deste século.
Há já um bom tempo, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) vem advertindo sobre as consequências: a seca tornará inabitáveis amplas regiões da África e da América Latina; o gelo da Groenlândia poderá derreter, elevando em sete metros o nível do mar e submergindo países insulares como as Maldivas e Tuvalu, assim como a costa de Bangladesh.
AV/dw/rtr/afp/dpa
Revisão: Roselaine Wandscheer