Imigrantes
21 de outubro de 2009O lema do ministro italiano do Interior, Roberto Maroni, é evitar que refugiados cheguem a território italiano. Pequenas embarcações conseguem, apesar da política do governo, aportar na Itália, mas os passageiros estão sendo discretamente transportados para a Sicília, passando ao largo das observações da mídia.
As associações que o nome Lampedusa até agora desencadeavam se deviam ao superlotado campo de admissão de refugiados situado no centro da ilha. Um campo que, na verdade, já havia se tornado quase num pequeno povoado. Até há pouco, praticamente todo imigrante ilegal que chegava à Itália era levado para esse centro, onde permanecia pelo menos por alguns dias.
Às moscas
No ano passado, 31 mil refugiados passaram por ali. Hoje, o centro se encontra vazio. No início de junho último, os últimos habitantes do campo foram removidos, e agora não há mais nenhum imigrante ilegal em Lampedusa.
"É surreal. Não encontro outras palavras para descrever. Durante muito tempo, havia 1.500 pessoas aqui. E agora só nós. Parece completamente diferente", resume Paola Silvino, vice-diretora do centro.
Silvino lembra, por exemplo, o mês de outubro de 2008, um momento em que o número de refugiados em Lampedusa atingiu seu ápice. "Outubro foi um mês recorde, com a chegada de incontáveis embarcações. Em alguns dias, tivemos aqui mais de duas mil pessoas. Foi um desses meses todos se acotovelavam por aqui", conta Silvino.
Apreensões em alto-mar
A vice-diretora do centro não cita oficialmente as razões pelas quais o campo se encontra agora vazio, embora elas sejam óbvias. O ministro Maroni, da Liga Norte, partido italiano de extrema direita, quer assim provar o sucesso de sua política xenófoba para refugiados.
Desde maio deste ano, ele ordena que as embarcações de refugiados sejam apreendidas em alto-mar e que dali sejam levadas à Líbia, antes que qualquer passageiro tenha posto os pés na Itália e adquira, assim, a possibilidade de requerer asilo.
A Itália, desta forma, transgride a Convenção para Refugiados de Genebra. Além disso, Lampedusa é um dos pontos nevrálgicos nessa questão. Se dali não saem imagens de refugiados para serem divulgadas pela mídia, isso significa, na lógica que Maroni vende como bem-sucedida, que não há mais refugiados no país.
Deportação imediata
Apesar disso, ainda há imigrantes que conseguem chegar ao país por via marítima, mesmo que em número bem menor do que no ano passado. Estes, no entanto, não estão mais sendo levados a Lampedusa, mas sim a Porto Empedocle, na Sicília, ou a outros lugares, quando não são deportados de imediato.
Os funcionários do campo de acolhimento em Lampedusa não têm alternativa exceto esperar. "Estamos sempre a postos, nossos funcionários estão aqui 24 horas por dia. Da administração até as assistentes sociais, passando pelos trabalhadores especializados, para nós nada mudou. Garantimos uma prestação de serviços em potencial, pois, no momento, não há nenhum imigrante ilegal aqui. Mas estamos prontos, caso chegue alguém", descreve uma funcionária.
Protestos veementes
Outra razão pela qual Lampedusa deixou de ser centro de admissão de refugiados foram os protestos furiosos na ilha. No início do ano, o governo italiano quis concentrar ali todos os refugiados que chegavam ao país por via marítima (chamados de boatpeople), até que estes fossem deportados, o que desencadeou um estado de emergência na ilha.
Os moradores de Lampedusa foram às ruas protestar e no campo superlotado houve uma revolta no dia 18 de fevereiro, quando refugiados queimaram colchões e provocaram um incêndio, destruindo o prédio principal.
Hoje, já está tudo consertado, conta Paola Silvino. "Está tudo reconstruído, do jeito como era antes. Os trabalhos estão quase encerrados e todas as instalações prontas para serem usadas de novo. O prédio tinha sido completamente queimado e teve, por isso, que ser construído de novo."
Embora tudo indique que as instalações irão permanecer vazias, pelo menos a médio prazo. Parecem ter sido completamente deixados de lado, mesmo que não oficialmente, os planos de ampliação para um segundo campo de deportação, a ser construído numa caserna da Marinha desativada na outra extremidade da ilha.
Fechado para sempre?
Os prédios, todos em decadência, ainda estão sendo vigiados por três soldados, com alguns cães de guarda ao redor, embora não haja mais nenhum sinal de uma reforma em andamento. No campo de admissão na ilha, há oficialmente lugar para 850 pessoas. A vice-diretora Paola Silvino não sabe dizer quanto tempo essas instalações ainda permanecerão vazias, se algum dia serão reocupadas ou se serão até mesmo fechadas para sempre.
Apenas de uma coisa ela se diz certa: da qualidade dos serviços prestados ali. Para os funcionários do campo de acolhimento, a postura xenófoba do ministro do Interior, que afirmou publicamente que o país deveria "ser mau" com os refugiados, não tem vez em Lampedusa, garante Silvino. "Aqui nunca ninguém foi maltratado. Sempre tentamos fazer o melhor que podíamos para tratar essas pessoas da forma mais digna possível", resume.
Autor: Stefan Troendle (sv)
Revisão: Augusto Valente