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Polícia desocupa bastião da esquerda autonomista em Berlim

9 de outubro de 2020

Ao todo 1.500 agentes de oito estados alemães participam de operação de despejo. Ação contra projeto habitacional feminista ocorre em meio a protestos.

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Policial sobe escada colocada em janela de prédio para desocupação em Berlim
Policiais de oito estados participaram do despejoFoto: Axel Schmidt/Reuters

A polícia de Berlim anunciou nesta sexta-feira (09/10) que conclui a desocupação de um prédio conhecido como Liebig 34, em Friedrichshain, que há anos era habitado por um grupo feminista da esquerda autonomista.

Os autonomistas pertencem a um movimento de esquerda que defende a descentralização do poder e prega a autogestão, o estabelecimentos de novos modelos sociais e o antifascismo. Os autonomistas se baseiam numa estrutura organizacional horizontal e sem hierarquias. Uma das suas marcas é a ocupação de prédios abandonados para destiná-lo a fins sociais.

A operação de despejo foi acompanhada por um protesto contra a medida. Cerca de 1.500 manifestantes se reuniram em frente ao prédio. Segundo a polícia, o protesto ocorreu em grande parte pacificamente, assim como a desocupação.

Em algumas ruas próximas ao local, houve registro de garrafas lançadas contra os agentes de segurança. Os manifestantes entoavam frases como "casa é de quem mora nelas".

Ao todo 1.500 policiais, de oito estados alemães, foram deslocados para a operação de desocupação, que durou aproximadamente quatro horas. Os agentes cumpriam uma ordem judicial concedida ao proprietário do imóvel.

Os agentes utilizaram motosserras e rebarbadoras para abrir caminho por barricadas colocadas pelas moradoras para dificultar o desejo. Do prédio, foram retiradas 57 pessoas, algumas tiveram que ser carregadas para fora por se recusarem a deixar o imóvel. Dois moradores foram detidos por resistência contra agentes da lei.

Os moradores do prédio alegaram que o despejo é ilegal e disseram que a polícia proibiu seu advogado de entrar no imóvel e o contato deles com o oficial de justiça.

O Liebig 34 é um projeto habitacional queer-feminista e um dos últimos bastiões da cena da esquerda autonomista na cidade. Desde 1999, o local oferece refúgio para mulheres, transexuais e intersexuais. Um bar e um centro cultural que havia no prédio permitia aos moradores arrecadar fundos para cobrir o aluguel.

Policial ajuda moradora a sair por escada colocada em janela de prédio em desocupação em Berlim
Maioria das moradoras saiu sem resistênciaFoto: Axel Schmidt/Reuters

Em 2018, o dono do imóvel, o grupo imobiliário Padovicz, que possui mais de 200 prédios em Berlim, se recusou a renovar o contrato de aluguel e iniciou um processo para despejar as moradoras. O grupo é conhecido por práticas abusivas contra seus inquilinos, como deixar os imóveis se deteriorarem para forçá-los a sair do prédio ou forçar uma reforma desnecessária para posteriormente alugar essas moradias por valores muito mais altos.

O Liebig 34 é um dos últimos prédios ocupados na cidade e a mais recente vítima do processo de gentrificação que vem assolando a capital alemã nos últimos anos.

Com um aumento na procura e na venda de imóveis para grandes empresas de capital aberto, Berlim se tornou a cidade da Alemanha onde o preço dos aluguéis mais subiu desde 2008. Em média, o aumento foi de 104%. Entre os moradores da capital alemã, 85% são inquilinos, e muitos têm sentido no bolso essa transformação.

Apesar dos aluguéis ainda serem mais baratos do que em Londres ou Paris, Berlim tem taxas de desemprego e pobreza relativamente mais altas, além de uma média salarial baixa, o que dificulta para muitos encontrar uma moradia pagável.

A desocupação num momento em que Berlim vive um aumento no número de casos de covid-19 foi criticada pela deputada Gesine Lötzsch, do partido A Esquerda. "Berlim é declarada área de risco, e centenas de policiais de toda a Alemanha estão evacuando uma casa", escreveu em sua conta no Twitter.

Já o deputado conservador Jan-Marco Luczack, da União Democrata Cristã (CDU), que atua num escritório de advocacia que presta serviços a investidores imobiliários, comemorou o despejo e alegou que as moradoras do imóvel "aterrorizavam os moradores da região".

CN/dpa/ots