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Policial iraniano é investigado por assédio a manifestante

15 de outubro de 2022

Vídeo que mostraria iraniana sendo agredida sexualmente por agente da tropa de choque gera indignação. Sob pressão, polícia diz que abriu investigação sobre o caso. Multidão volta às ruas do país em onda de protestos.

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Policiais iranianos
Foto: NNSRoj

A polícia do Irã informou que vai investigar a conduta de um policial acusado de agredir sexualmente uma manifestante que participava de protestos antigoverno em Teerã. Um vídeo que mostra o assédio viralizou na internet e causou indignação generalizada.

As imagens, que teriam sido gravadas durante uma manifestação na praça Argentina, na capital iraniana, na quarta-feira, mostram uma mulher sendo levada violentamente sob custódia em uma rua lotada de manifestantes e policiais de choque.

No vídeo, ela aparece cercada por membros armados da força de choque, e um deles parece apalpá-la de forma inadequada por trás. A manifestante então cai no chão. Uma voz feminina atrás da câmera é ouvida dizendo: "Eles estão puxando o cabelo dela."

A mulher finalmente conseguiu escapar das mãos dos agentes depois que motoristas passaram a buzinar insistentemente para a polícia.

O vídeo, que não pôde ser confirmado de forma independente por agências de notícias internacionais, foi publicado por canais de língua persa baseados fora do Irã e compartilhado nas mídias sociais.

O departamento de polícia de Teerã disse ter conhecimento do incidente e que uma investigação sobre o caso foi iniciada, garantindo que toda "violação" será examinada.

Em comunicado divulgado pela Irna, agência de notícias oficial do Irã, a corporação afirmou que os policiais em questão estavam tentando prender "uma mulher que foi uma das instigadoras dos distúrbios na praça Argentina".

A polícia disse ainda que "se considera responsável e não aprova comportamentos que fogem das regras e dos regulamentos de forma alguma".

Ao mesmo tempo, sem dar detalhes do que aconteceu com o policial acusado de assédio, afirmou que "inimigos usando guerra psicológica tentaram causar ansiedade pública e incitar a violência".

Muitos ativistas no país duvidam da imparcialidade da polícia e da seriedade da investigação.

Violência policial contra mulheres

Há cinco semanas, o Irã vem sendo palco de seus maiores protestos antigoverno em anos, desencadeados pela morte de Mahsa Amini, de 22 anos, sob custódia policial.

Em meados de setembro em Teerã, a jovem curda morreu após ser presa pela polícia da moral iraniana por não usar corretamente o véu islâmico, que é obrigatório no país.

Os protestos, que começaram contrários à violência policial e ao rígido código de conduta imposto pelas autoridades às mulheres, rapidamente se tornaram grandes atos contrários ao regime. E têm sido duramente reprimidos pelas forças de segurança, levando a mortes e detenções.

Os atos recebem apoio também pela internet, com celebridades iranianas e estrangeiras usando as redes sociais para defender a causa. Imagens poderosas dos protestos têm levado a mensagem dos manifestantes para além das fronteiras iranianas.

No Irã, a violência policial contra as mulheres não é um caso isolado. Após a morte de Amini, uma série de vídeos voltou a circular nas redes mostrando mulheres sendo espancadas e abusadas pela polícia quando são presas por não usar o véu. As imagens frequentemente revelam golpes violentos na cabeça enquanto elas são arrastadas pelos cabelos para dentro de viaturas.

Manifestação em Ardabil
Protesto em Ardabil: iranianos voltaram às ruas do país neste sábadoFoto: NNSRoj

"O começo do fim"

Apesar de as autoridades terem bloqueado o acesso a aplicativos populares como o Instagram e o Whatsapp, protestos em massa foram convocados para este sábado (15/10) sob o slogan "O começo do fim!".

Imagens feitas em Teerã mostram manifestantes – em sua maioria mulheres sem véu – reunidos em vários locais gritando "morte ao ditador", em referência ao líder supremo Ali Khamenei. "Armas, tanques, fogos de artifício: os mulás devem cair fora", entoavam os presentes.

Manifestações foram registradas também em outras partes do país, como nas cidades de Hamedan e Ardabil. Lojistas entraram em greve na cidade natal de Amini, Saghes, localizada na província ocidental do Curdistão.

Os protestos femininos ganharam o apoio do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. "Quero que vocês saibam que estamos do lado dos cidadãos e das corajosas mulheres do Irã", disse o democrata na sexta-feira. "O que despontou no Irã me surpreendeu. Despertou algo que acho que não será silenciado por muito, muito tempo."

Biden acrescentou que o governo iraniano "precisa acabar com a violência contra seus próprios cidadãos, que estão simplesmente exercendo seus direitos fundamentais".

Ao menos 108 pessoas já morreram nos protestos que se seguiram à morte de Amini, segundo o grupo Iran Human Rights, com sede em Oslo.

E o movimento não perdeu força apesar do que a Anistia Internacional chamou de "repressão brutal implacável" que incluiu um "ataque contra manifestantes infantis", levando à morte de pelo menos 23 menores.

A repressão gerou condenação e sanções internacionais contra o Irã por parte do Reino Unido, Canadá e Estados Unidos. O líder supremo iraniano acusou esses países de fomentar os "motins".

ek (AFP, DPA, ots)