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Guerra virtual

3 de julho de 2010

Para governo americano, prosperidade do país dependerá de defesa e poderio cibernéticos. Em nome da proteção no mundo virtual, países formam tropas de hackers para combater ataques.

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Servidores da internet: alvo dos hackersFoto: picture-alliance/ZB

Guerras sempre foram travadas por terra, no mar e pelo ar. Mas hoje já surgiu um novo espaço bélico: o mundo virtual. A crescente dependência da infraestrutura da tecnologia de informação gera novos tipos de vulnerabilidade por meio dos ataques cibernéticos.

As forças militares e o serviço secreto já conhecem esse perigo e estão se munindo contra ele. Como resumiu o presidente norte-americano, Barack Obama: "Em suma, a prosperidade econômica dos Estados Unidos no século 21 dependerá da segurança cibernética."

O nascer de uma política

Em maio de 2009, Obama foi o primeiro presidente americano a fazer um discurso dedicado ao assunto. Ele ressaltou a dependência de redes de computadores sobre o fornecimento de petróleo, gás, energia e água, redes que controlam o sistema de tráfego e garantem a segurança dos vôos.

"No mundo de hoje, os ataques terroristas não se restringem à ação de alguns homens-bomba. Eles também podem ocorrer por meio de uma combinação de dígitos no computador. É uma arma de devastação de massa", declarou Obama.

Um ano após esse pronunciamento, em 21 de maio de 2010, o general Keith Alexander foi homenageado com a quarta estrela. O chefe da Agência de Segurança Nacional (National Security Agency, NSA) também assumiu o recém-criado Cyber Command (comando cibernético).

A NSA é considerada a seção mais ampla e poderosa do serviço secreto americano, além de ser a maior empregadora de matemáticos. A sede da agência em Fort Mead monitora, decifra e interpreta o tráfego de informação eletrônica mundial.

Em 3 de junho, quando Keith Alexander assumiu a chefia do Cyber Command, ele pintou um cenário sombrio: o sistema do Pentágono sofre diariamente seis milhões de acessos ilegais.

"A prosperidade e força dos Estados Unidos fazem com que o país seja alvo de ataques no espaço cibernético. E um dos pilares do nosso poderio, as Forças Armadas, seja talvez ainda mais vulnerável. As Forças Armadas dependem de suas redes para comando e controle, comunicação, operações secretas e para a logística. Precisamos proteger 7 milhões de computadores do Departamento de Defesa, conectados a 15 mil redes", explicou Alexander.

Hacking Demonstration
Hacker demonstra vulnerabilidade na internetFoto: Matthias von Hein

Ataque e defesa

No ano anterior, o secretário norte-americano da Defesa, Robert Gates, anunciara que quadruplicaria o número de especialistas em segurança de computadores. Isso inclui não apenas a proteção e defesa dos próprios sistemas.

O americano Herbert Lin, especialista em computação, fala abertamente sobre o próprio potencial de agressão cibernética. "Inúmeros países desenvolvem habilidades tanto ofensivas quanto defensivas no espaço cibernético. A discussão pública costuma se restringir à dimensão defensiva. Poucos se referem à dimensão ofensiva, embora ela seja um aspecto essencial para o entendimento da política de segurança cibernética", diz o especialista.

Sandro Gaycken, pesquisador de tecnologia e segurança da Universidade de Stuttgart, calcula que mais de 140 países estejam desenvolvendo programas de guerra cibernética e formando tropas com essa finalidade. Afinal, uma equipe de dez hackers hábeis já poderia causar danos consideráveis.

"As grandes forças armadas recomendam agora a formação de tropas de dezenas de milhares de hackers. O Exército dos Estados Unidos recrutou de 10 a 15 mil; no caso da China, não se sabe ao certo, mas devem ser de 20 a 25 mil. São equipes integradas por psicólogos, engenheiros e todos os especialistas possíveis, dedicadas a inspecionar determinados sistemas, a fim de poderem então ligá-los e desligá-los, sabotá-los e perturbá-los", explica Gaycken.

Oportunidade de negócio

O especialista em segurança Bruce Schneier, da revista britânica Economist, vê a militarização do ciberespaço de forma crítica. "A guerra cibernética é uma grande indústria. Os Estados Unidos direcionam uma grande quantia de dinheiro para essa finalidade. Assim Washington vai consolidar um grande poderio militar, e muita gente vai tirar proveito disso".

A indústria bélica também fareja aí um negócio lucrativo. Por meio de novos serviços e softwares de defesa contra ataques cibernéticos e redes de comunicação, os conglomerados do setor estão explorando um novo ramo de negócios. O grupo Raytheon, com cerca de 75 mil funcionários e um faturamento de 20 bilhões de euros em 2009, vem se expandindo no âmbito de proteção de dados.

"A Raytheon publicou recentemente um anúncio de emprego no qual se colocava em busca de 'cyber-ninjas'. Isso mostra senso de humor, mas ao mesmo tempo deixa claro o interesse por pessoas com estratégias ofensivas", avalia Samuel Liles, especialista em terrorismo cibernético.

Em meados de junho, a proposta mais ousada nesse sentido partiu do senador americano independente Joe Liebermann, presidente da Comissão de Segurança Doméstica. O senador apresentou um projeto de lei em que a internet seria declarada como patrimônio nacional dos Estados Unidos. Segundo a proposta, o presidente americano poderia desligar toda a rede em caso de emergência nacional.

Autor: Matthias von Hein (np)
Revisão: Simone Lopes