PF faz operação contra envolvidos em atos golpistas
20 de janeiro de 2023A Polícia Federal (PF) cumpre nesta sexta-feira (20/01) mandados de prisão, busca e apreensão contra suspeitos de participarem dos atos antidemocráticos na Praça dos Três Poderes em Brasília em 8 de janeiro. A operação batizada de Lesa Pátria mira os envolvidos diretos na invasão e financiadores dos atos.
Expelidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), oito mandados de prisão e 16 de busca e apreensão são cumpridos no Distrito Federal, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul.
Os suspeitos de envolvimento nas invasões golpistas em Brasília devem responder pelos crimes de abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição, e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido.
A PF afirmou que as investigações sobre os ataques ainda estão em curso.
A operação ocorre um dia após o ministro do STF Alexandre de Moraes libertar 220 detidos envolvidos no ataque e manter a prisão preventiva de 354 acusados.
Quatro detidos
Até o fim da manhã desta sexta, a polícia prendeu quatro suspeitos na operação: Ramiro Alves Da Rocha Cruz Junior, conhecido como Ramiro dos Caminhoneiros, Randolfo Antonio Dias, Renan Silva Sena e Soraia Bacciotti. Um dos procurados, Raif Gibran Filho, conseguiu fugir dos agentes ao pular a janela do segundo andar.
Ramiro dos Caminhoneiros aparece em vídeos convocando bolsonaristas para os ataques em Brasília e se apresentando como organizador de viagens de ônibus para quem quisesse participar dos atos golpistas. Ele chegou ainda a gravar um vídeo dos extremistas detidos na Academia de Polícia Federal.
Já Renan Silva Sena, ex-funcionário do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos no governo Jair Bolsonaro, e Soraia Bacciotti são suspeitos de organizar doações para custear o acampamento golpista em Brasília.
Essa não é a primeira vez que Renan é detido. Em 2020, ele foi preso por participar de um ataque com fogos de artifício contra o STF. No mesmo ano, ele apareceu num vídeo xingando e agredindo enfermeiras que participavam de um ato no auge da pandemia de covid-19 pedindo isolamento social.
O outro detido, Randolfo Antonio Dias, participou de um acampamento golpista em Belo Horizonte.
Buscas na casa de Ibaneis Rocha
À tarde, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão na casa do governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha(MDB), no Palácio do Buriti, sede do governo local, e no antigo escritório de advocacia de Ibaneis.
Ele é investigado em inquérito aberto por Moraes, que também autorizou as buscas, para apurar a conduta das autoridades de segurança do Distrito Federal nos atos golpistas de 8 de janeiro. Além do governador, Fernando de Sousa Oliveira, ex-secretário interino de Segurança Pública do DF, também é alvo.
O afastamento do governador pelo prazo de 90 dias foi deferido para apurar a suposta omissão de Ibaneis e outras autoridades na contenção dos atos violentos na capital federal.
Em nota divulgada após a chegada dos agentes, os advogados Alberto Toron e Cleber Lopes afirmaram que as buscas vão demonstrar a inocência de Ibaneis.
"O governador sempre agiu de maneira colaborativa em relação à apuração dos fatos em referência, certamente será a prova definitiva da inocência do chefe do Executivo do Distrito Federal", diz a nota.
Ibaneis também se manifestou pelas redes socais. O governador afastado disse que é inocente e não tem relação com "os lamentáveis fatos do último dia 8 de janeiro".
Ataques em Brasília
Em 8 de janeiro, grupos organizados de extremistas de direita promoveram um dia de terror em Brasília, invadindo e depredando o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e a sede do STF – marcando o momento mais violento da política brasileira pós-redemocratização e um ápice do movimento golpista que tenta reverter ilegalmente o resultado da última eleição presidencial.
Vestidos com as cores verde amarela e pregando um golpe militar, os bolsonaristas invadiram primeiro o Congresso e depois se dirigiram para as sedes dos outros poderes, nunca sendo barrados de maneira decisiva pelas forças de segurança do Distrito Federal, o que levantou acusações de conivência ou incompetência das autoridades locais.
A depredação só terminou mais de duas horas depois, quando a tropa de choque e a cavalaria da PM finalmente agiram de maneira decisiva contra os bolsonaristas.
Após os ataques, muitos golpistas voltaram para o acampamento instalado há meses em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília. O acampamento foi desmontado pelas autoridades no dia seguinte à invasão, e centenas de participantes foram presos.
cn/ek (ots)