Pets rejeitados na pandemia vão parar no Tinder
18 de novembro de 2021"Não sou alguém para uma noite só" – muitos que olham nos olhos de Paris no Tinder são capazes de se apaixonar à primeira vista. Mas a coisa não para por aí. O perfil no aplicativo de namoro traz uma descrição caprichada: "Apaixonado por passeio de carro que viveu na Grécia por um tempo, inteligente e leal". Aqueles que ainda não se convenceram nas primeiras linhas, dificilmente resistirão ao apelo final: "Deixe-me ser seu protetor!"
Um pequeno detalhe: Paris é um cachorro. E mora no abrigo de animais em Munique. "Uma agência de marketing de Munique teve a ideia, então selecionamos e criamos sete perfis de gatos e sete de cães", diz Kristina Berchtold, da Sociedade de Proteção aos Animais de Munique. "O algoritmo reconheceu os animais e incialmente os bloqueou. Mas depois de uma conversa, o Tinder liberou os perfis novamente e até mesmo nos deu publicidade."
Ideia criativa para ocasião triste
E assim os cachorros Harcos e Joshi e a gata Saskia não buscam uma aventura rápida na plataforma de namoro, mas um relacionamento estável e duradouro. Quem der match com eles, poderá realmente conhecer os bichinhos no abrigo de animais de Munique, que hospeda atualmente 1.085 animais, incluindo ouriços, pássaros aquáticos e até raposas, mas acima de tudo gatos e coelhos. O que muitos deles têm em comum: falta de sorte com o relacionamento anterior, que muitas vezes começou no lockdown do coronavírus.
Como Bella, um excelente exemplo de um projeto de pandemia fracassado. A gata, nascida em 2020, foi abandonada junto com seu filhote numa caixa de papelão. O filhotinho teve que ser imediatamente sacrificado devido a uma doença. Na caixa havia um bilhete que dizia: "Não posso mais pagar as contas do veterinário."
"Com a campanha, queremos também chamar a atenção para os animais abandonados. E para os animais difíceis, doentes e velhos que cada vez mais acabam em abrigos de animais desde o início da pandemia", diz Berchtold.
Alta na compra de cães e gatos
Se Mico pudesse criar o seu próprio perfil no Tinder, escreveria: "Pequinês, oito anos, tipo engraçado como palhaço, com um ego enorme que faz rir a todos". Até mesmo o pequeno cachorro no abrigo de animais de Bonn já viveu uma típica história triste dos tempos de pandemia. O dono rapidamente se cansou de Mico, encomendado por um clique através do site de comércio online Ebay e entregue depois de algumas semanas ao abrigo de animais.
De 2019 a 2020, houve um aumento de um milhão de gatos e 600 mil cães na Alemanha. É como se todos os habitantes de cidades alemãs como Colônia e de Leipzig tivessem comprado um gato ou um cachorro de uma só vez. Ativistas dos direitos dos animais alertaram contra a compra impensada de um animal de estimação durante a pandemia. Mas sem sucesso.
Na cidade de Moers, uma senhora de 65 anos recentemente jogou seu cachorro por cima da cerca de 2 metros de altura do abrigo de animais. Motivo: ela não dava mais conta de criar o animal.
Escolas de cães superlotadas
Julia Zerwas sabe como soa um telefonema típico de alguém que não suporta mais seu bicho de estimação. Antes da pandemia era um por semana, agora há uma média de cinco. "Eu tenho um cachorro que recentemente rosnou para meu filho. Ou mordeu um vizinho. Agora tem que ir embora o mais rápido possível", diz a diretora do abrigo de animais Albert Schweitzer, em Bonn. "A vontade dos donos de animais de continuarem com o bicho é baixa. Assim que surgem problemas, muito poucos dão uma segunda chance."
É um círculo vicioso: os animais precisam de atenção, atenção e educação, mas as escolas de cães, por exemplo, estão lotadas há meses, sem vagas, também por causa da pandemia.
"O pior não são os casos de pessoas que agora precisam trabalhar de novo e, por isso, não têm tempo para o animal. Mas sim o fato de que muitos bichos estão agora com quase um ano de idade entram na puberdade e tornam-se difíceis", diz Zerwas. "Recebemos aqui quase que só cães totalmente carentes de gastar suas energias, com problemas de comportamento e que já morderam alguém."
Procura-se o bichinho perfeito
Ainda na semana passada, a diretora do abrigo de animais de Bonn teve que acolher quatro gatinhos que haviam sido abandonados. E cada vez mais cães acabam no abrigo após fugirem por não conhecerem a vida na cidade. E o local também é uma estação de recepção e quarentena para animais do exterior que não foram totalmente vacinados, muitos deles com apenas dez semanas de idade.
Parece que os alemães chegaram ao modo Tinder na hora de escolher seu animal de estimação, procurando o parceiro perfeito, sem defeitos e fraquezas, que promete um relacionamento absolutamente tranquilo.
"Se o cachorro fica tranquilo ao andar de carro e quando deixado sozinho, se ele se dá bem com crianças e brinca com outros cachorros, ótimo. Mas quando algo não dá certo, a coisa se torna difícil", diz Zerwas.
Comércio ilegal cresce
Se o Tinder é a plataforma que pode aliviar alguns animais de seu sofrimento, para outras centenas de pets o portal Ebay ainda é o ponto de partida para estresse, doenças e até a morte. O comércio ilegal de filhotes está crescendo na época da pandemia. De acordo com uma avaliação da Associação Alemã de Bem-Estar Animal, 1.307 animais foram afetados no primeiro semestre de 2021, mais do que em todo o ano anterior. Devido ao alto número de casos não relatados, esta é apenas a ponta do iceberg.
"A plataforma abre a porta para o comércio ilegal, este comércio deve finalmente ser restringido e legalmente regulado se uma proibição não puder ser aplicada. As penalidades para os comerciantes ilegais, os controles e a investigação dos casos devem ser mais rígidos", diz Hester Pommerening, da Associação Alemã de Bem-Estar Animal. "Mas nada acontece politicamente, e a situação está se tornando cada vez mais dramática."
Organizações que lutam pelo bem-estar animal agora estão depositando suas esperanças no novo governo alemão e num novo ministro, possivelmente do Partido Verde, que esteja mais comprometidos com o bem-estar animal. E, que se preocupe, também no nível da União Europeia, em pressionar para que o comércio ilegal de animais seja restringido, com identificação e registro obrigatórios de cães e gatos em toda a Europa.
"O que estamos vendo atualmente é um verdadeiro consumo de seres vivos. E pessoas que compram animais como mercadorias ou brinquedos e que simplesmente querem trocá-los quando não funcionam", lamenta Pommerening.