Energia
16 de abril de 2008Embora sejam cautelosas as declarações da Agência Nacional de Petróleo (ANP) quanto à descoberta de imensas reservas de petróleo na Bacia de Santos, o especialista alemão Kurt Reinicke, professor do Instituto de Engenharia do Petróleo da Universidade Técnica de Clausthal, considera "muito alta" a probabilidade de que a notícia seja verdadeira.
Em entrevista exclusiva à DW-WORLD, Reinicke afirmou que a bacia da costa brasileira é bastante prospectiva e que as pesquisas em que se baseiam a provável descoberta da maior reserva de petróleo das últimas décadas seriam de grande credibilidade.
O anúncio da provável descoberta repercutiu também na imprensa da Grã-Bretanha e da Espanha, países cujas empresas são sócias da Petrobras na prospecção das novas reservas. Para o jornal espanhol El País, caso se confirme a notícia, o Brasil poderá se tornar uma potência mundial como exportador de petróleo.
Comparação "exagerada"
O professor do Instituto de Engenharia do Petróleo relativizou, no entanto, o tamanho das reservas anunciadas. Os 30 a 33 bilhões de barris previstos para o poço Carioca seriam muito, se comparados às reservas do Mar do Norte.
A soma de todos os campos de petróleo do Mar do Norte corresponderia à metade das reservas da nova descoberta na Bacia de Santos, informou Reinicke à DW-WORLD. Em termos mundiais, esta cifra seria relativamente baixa.
Ela corresponderia a um ano e meio do consumo mundial de petróleo, afirmou o professor, acrescendo que é provável que se anunciem novas descobertas na bacia onde foi encontrado o novo poço.
No entanto, a comparação do Brasil com um novo Oriente Médio seria "exagerada" na opinião do professor da Universidade Técnica de Clausthal. "Este é um grande achado, mas é bem menor que o poço de Ghawar, na Arábia Saudita. Se acreditarmos nas informações de fontes sauditas, Ghawar, o maior poço de petróleo do mundo, é quatro ou seis vezes maior que o poço brasileiro", afirmou Reinicke.
"Na hora certa"
Devido à diminuição da produção no Mar do Norte, Reinicke é de opinião que o anúncio da possível descoberta chegou "na hora certa". Devido às dificuldades de prospecção em águas profundíssimas, que exige desenvolvimentos completamente novos, ele prevê que o novo poço deverá entrar em operação somente daqui a dez anos.
Mesmo considerando as novas descobertas, Reinicke não acredita na diminuição do preço do barril de petróleo, que deverá continuar oscilando entre 80 a 120 ou 130 dólares. Em um futuro próximo, não deveremos no preocupar com uma possível escassez do combustível fóssil, mas a longo prazo sim, explica.
Teoria do Pico do Petróleo
Em sua edição online desta quarta-feira (16/04), o jornal britânico The Guardian comenta a surpresa da descoberta na costa brasileira que poderá confundir aqueles que prevêem o fim do petróleo e do gás natural. Segundo o jornal do Reino Unido, cuja empresa British Gas detém 30% das ações das novas reservas, o anúncio da descoberta contradiz os pronunciamentos de que o crescimento da produção mundial de petróleo atingiu seu pico.
Os defensores da teoria do Pico do Petróleo acreditam que o preço do petróleo continuará a subir enquanto as companhias tentam encontrar, crescentemente, escassas novas reservas, numa época em que a rápida industrialização da China e da Índia aumenta a demanda, escreve o jornal.
Quanto à veracidade da nova descoberta da reserva de 33 bilhões de barris, o The Guardian afirma que ela não surpreende a Dieter Helm, professor de política energética da Universidade Oxford e conselheiro do governo britânico: "Se atribuído ao poço Carioca ou a outro, isto não deve distrair do fato que existe muito petróleo na região".
Com a elevação do preço do barril de petróleo após o anúncio de estagnação da produção russa, na terça-feira (15/04), a notícia das reservas brasileiras é motivo de bastante otimismo, comenta o The Guardian.
Potência mundial
Com otimismo também escreve o jornal de centro-esquerda espanhol El País sobre a provável descoberta brasileira. Não é surpresa que britânicos e espanhóis dêem atenção especial à notícia. Além da British Gas, o grupo hispano-argentino Repsol-YPF detém 25% das ações do novo campo.
Para o jornal espanhol, se confirmada a descoberta, as "cartas da política da América Latina e de todo o mundo terão que ser embaralhadas novamente. Devido à sua grandeza territorial e populacional e ao seu poderio militar, o Brasil já é uma potência regional".
Como exportador de petróleo para os Estados Unidos e outros países, o país se tornaria uma potência mundial. O El País comenta que há indícios de uma diminuição da importância do Oriente Médio e da ascensão de outras regiões.