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Voo solo

6 de janeiro de 2012

Pouco conhecida nos EUA, empresa brasileira inicia atividades em dois poços no Golfo do México. Especialistas norte-americanos dizem que padrão de segurança da Petrobras melhorou desde acidente com a P-36, em 2001.

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Golfo do México: cerca de 3.500 plataformasFoto: AP

A Petrobras está prestes a estrear no Golfo do México o seu primeiro projeto como operadora. A companhia brasileira já atua na região em parceria com outras empresas, mas, pela primeira vez, terá 100% de controle de um poço de extração.

O início das atividades está previsto para até o fim de janeiro em dois campos: no de Cascade, a Petrobras tem controle total; no de Chinook, a empresa atua em parceira com a francesa Total, com 66,7% de participação. As plataformas, instaladas a 250 quilômetros da costa do estado norte-americano da Luisiana, vão buscar petróleo e gás a mais de 2 mil quilômetros de profundidade.

O Golfo do México ainda vive os impactos da tragédia de abril de 2010, quando a plataforma Deepwater Horizon, da britânica BP, explodiu e matou 11 pessoas. Classificado como o "o pior desastre ambiental da história no continente" pelo Greenpeace, estima-se que 780 milhões de litros de petróleo cru tenham vazado para o mar.

Quase dois anos depois do incidente, a extensão do prejuízo ainda é incerta. "Não sabemos muito sobre os impactos nas águas profundas. É difícil chegar até lá, e esse é um problema de longo prazo. Há muitas pesquisas em andamento", disse James Natland, da Universidade de Miami, à DW Brasil.

Tecnologia e segurança

A companhia brasileira vai levar à região a tecnologia FPSO (Floating Production, Storage and Offloading vessel). Trata-se de um navio-plataforma com instalações de produção e estocagem, com capacidade de processar diariamente até 80 mil barris de petróleo e 50 mil metros cúbicos de gás natural.

Segundo a Petrobras, as autoridades norte-americanas elogiaram "a qualidade tecnológica do projeto e ressaltaram a colaboração entre a indústria e o governo americano para a produção segura de recursos de energia no país".

Kenneth Arnold, da consultoria norte-americana WorleyParsons, pondera: "FPSO é uma tecnologia muito comum. É a primeira vez que será usada no Golfo do México, mas há muitos navios como esse ao redor do mundo. Eu não diria que é mais seguro, diria que tem um nível de segurança equivalente ao dos outros sistemas de produção."

Entre as vantagens desse tipo de operação, a companhia brasileira alega que o navio-plataforma pode ser rapidamente desconectado do poço em caso de ameaça de furacão. "O Golfo do México é um negócio arriscado. Evacuações ocorrem praticamente todos os anos devido a furacões", lembrou Natland.

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Mancha de petróleo no Golfo do México depois do acidenteFoto: picture alliance / dpa

Traumas do Golfo

A primeira plataforma em águas profundas foi instalada em 1947 no Golfo do México – de lá para cá, a produção não parou, salvo o período da moratória imposta por Barack Obama, entre maio e outubro de 2010, em decorrência do vazamento da BP.

O trauma recente desacelerou a atividade no local, mas, segundo Arnold, o cenário está se normalizando. "As atividades estão voltando aos poucos ao nível de antes do acidente. Isso aconteceu apenas porque demorou um pouco para que o governo determinasse qual seria o procedimento de autorização e inspeção dos poços."

Desde a implantação de regulamentações mais severas, em junho de 2010, o Boem (Bureau of Ocean Energy Management), órgão do governo que regula o setor, aprovou 57 planos de exploração e nove planos de desenvolvimento de operações. Estima-se que cerca de 3.500 plataformas estejam em operação no local.

"As autoridades norte-americanas estão analisando com mais cuidado os planos que estão chegando e liberando as autorizações de uma maneira apropriada", considera Donald Winter, ex-secretário da Marinha dos Estados Unidos e professor na Universidade do Michigan. Dados do Boem mostram que licenças para a exploração de 5.832 blocos foram expedidas até o momento – o que não significa que todas estejam em operação.

Winter presidiu o comitê formado pela Academia Nacional de Engenheiros e pelo Conselho Nacional de Pesquisa que publicou, em dezembro último, um relatório sobre a situação pós-vazamento no Golfo do México. "Foram feitos muitos progressos, tanto do lado da indústria como dos reguladores. Há varias melhorias acontecendo, mais atenção sendo dispensada à segurança, inclusive por parte das empresas", declarou Winter à DW Brasil.

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Acidente com a P-36, em 2001, o pior da história da PetrobrasFoto: AP

Reputação da Petrobras nos EUA

A marca Petrobras é praticamente desconhecida do público geral nos Estados Unidos, disse Winter. "Mas todos aqueles que trabalham no setor petrolífero conhecem a empresa brasileira", assegurou Arnold.

A companhia recebeu em março de 2011 a licença para iniciar o projeto em Cascade e Chinook. "Anos atrás, a empresa não tinha uma boa reputação. Isso antes de a P-36 afundar", relata Arnold, fazendo referência ao pior acidente da história da companhia. Em 2001, antes de afundar, explosões na plataforma conhecida como P-36 provocaram a morte de 11 funcionários.

"A empresa fez uma grande mudança em relação à maneira como entende o que é segurança. E passou por transformações significativas nos últimos anos no Brasil. Nos Estados Unidos, a Petrobras está seguindo as regras e regulamentações locais, como qualquer outra companhia", pontua o consultor. "E o governo é muito severo ao checar se as empresas estrangeiras estão seguindo as regras."

Autora: Nádia Pontes
Revisão: Alexandre Schossler