Patriota na ONU
12 de fevereiro de 2011Enquanto o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, presidia a sessão do Conselho de Segurança sobre "manutenção da paz e segurança internacionais", na sexta-feira (11) em Nova York, o mundo presenciava um momentos histórico: caía o regime de Hosni Mubarak, que governou o Egito nos últimos 30 anos.
O tema do debate organizado pelo Brasil nas Nações Unidas não poderia ser mais atual. Nos 18 dias anteriores, o Egito vivera o resultado do desequilíbrio entre os aspectos destacados pelo ministro brasileiro: "A paz sustentável implica uma abordagem abrangente de segurança. Sem oportunidade econômica, desarmamento, desmobilização e reintegração como iniciativas independentes, raramente os resultados desejados serão alcançados", disse Patriota em discurso.
Presentes no plenário estavam também autoridades dos 15 países-membros do Conselho de Segurança (CS) da ONU. A saída do presidente Hosni Mubarak foi o foco das discussões. "Nosso desejo é que as aspirações sejam levadas em consideração, que aconteça uma transição pacífica, que as liberdades civis e política da população sejam respeitadas. Estamos olhando atentamente para as repercussões internacionais dessa crise, especialmente no Oriente Médio e, sem dúvida, há uma preocupação com a estabilidade na região. Esperamos que esses eventos contribuam para que o país se torne mais democrático, estável e mais desenvolvido”, declarou o ministro brasileiro.
O ministro, que também se reuniu com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e demais membros do Conselho, destacou as palavras do secretário-geral, que em nome da comunidade internacional disse: "A expectativa é que aconteçam no país árabe eleições livres, justas e credíveis, o que levará à rápida criação de um governo civil".
Relações internacionais
Antonio Patriota reafirmou que o tema proposto pelo Brasil para um debate de alto nível sobre o estreito elo entre paz, segurança e desenvolvimento reflete o trabalho que o Brasil vem desenvolvendo em países como o Haiti. "Com a presença de tropas brasileiras e com a missão de estabilização da ONU, nós fazemos a experiência diária de que a solução para os desafios enfrentados pela nação haitiana não se limita à área da segurança. É muito importante haver uma agenda que combine segurança com o esforço de construção, de desenvolvimento econômico, inclusão social, criação de empregos e isso ainda com todos os desafios que se colocam para o Haiti, depois do terremoto".
O ministro brasileiro assinalou que a atenção em relação ao país caribenho continuará intensa durante o governo Dilma. Nesse sábado (12/2), ele embarca para o Haiti, onde deverá acompanhar de perto o processo eleitoral e se reunir com o presidente René Préval e outras autoridades.
Patriota também demonstrou continuidade política quando falou da frustração do governo brasileiro diante da indefinição no processo de paz entre Israel e Palestina. O presidente Lula, no último mês de governo, reconheceu o Estado Palestino. Patriota lembrou que o presidente Barack Obama falou na Assembleia Geral da ONU, no ano passado, que esperava ver no encontro deste ano uma delegação palestina participando da reunião das Nações Unidas.
"Talvez este objetivo seja algo ainda idealista e ilusório, mas houve, durante o almoço de hoje com Ban Ki-moon, um forte apoio para que se retome o processo de negociação da paz e que esse movimento por mais liberdade, por maior participação política da população, no Egito e no mundo árabe em geral, também seja visto como uma oportunidade para o desenvolvimento e a estabilidade da paz na região como um todo", comentou o ministro.
Grupos de interesse
Ainda na sexta-feira, Patriota acompanhou o encontro do grupo formado pela Alemanha, Brasil, Índia e Japão, o assim chamado G4, para discutir a tão debatida e almejada reforma do Conselho de Segurança da ONU.
A insatisfação de longa data diante da atual composição, com apenas cinco membros permanentes (Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido), desperta debates sobre a falta de representatividade do órgão na atual situação geopolítica do mundo, já que a estrutura do Conselho de Segurança ainda espelha o mundo do pós-guerra.
Além de Antonio Patriota, participaram do encontro o ministro do Exterior da Alemanha, Guido Westerwelle, seu colega de pasta indiano, S. M. Krishna e o ministro das Relações Exteriores do Japão, Takeaki Matsumoto. Os quatro países do G4 ocupam no momento uma cadeira rotativa no CS e, durante o mês de fevereiro, o Brasil está na presidência do órgão mais importante das Nações Unidas.
Em comunicado, após o encontro, foi divulgado que "em vista do desejo comum da comunidade internacional, os ministros concordaram avançar em todas as etapas necessárias para alcançar, o mais rápido possível, a expansão nas categorias permanente e não permanente do Conselho de Segurança. Para tal objetivo, os países do G4 reafirmaram sua disposição em englobar outros países e trabalhar em estreita cooperação com aqueles em espírito de flexibilidade. Os países dos G4 também reiteraram sua visão acerca da importância de a África estar representada entre os membros permanentes de um Conselho ampliado."
O próximo encontro do grupo deve acontecer no próximo trimestre e a intenção é "levar o processo da necessária reforma do CS a um resultado concreto na atual sessão da Assembleia Geral”, disse Patriota. Além do G4, o ministro brasileiro também se reuniu com líderes do IBAS, grupo formado pela Índia, Brasil e África do Sul, para discutir as relações institucionais e comerciais entre os três países.
Autora: Cleide Klock
Revisão: Carlos Albuquerque