Partos transculturais
23 de dezembro de 2005Ao entrar na sala, sua presença é afetuosa e gentil, mas também decidida e dinâmica. Com estas qualidades, a iraniana de 41 anos, Adele Haashmi, escolheu a profissão certa: ela é parteira.
Já há 24 anos que ela vive na Alemanha e foi o nascimento de sua primeira filha, há 20 anos, que lhe despertou a vontade de tornar-se parteira. "Acompanhar mulheres no nascimento de sua criança é a profissão dos meus sonhos". E, quase sem sotaque, conclui: "Nós ficamos muito perto uma da outra, sou como uma amiga para elas".
Na cidade que escolheu para viver, Colônia, uma outra razão a faz indispensável a várias gestantes: ela fala persa e turco.
Tradutora e professora
Não raro, Adele se torna a principal fonte de esclarecimento em assuntos relativos à gravidez. "Eu me lembro do caso de uma jovem turca de 16 anos de idade que me perguntou, pouco antes do parto: por onde sai a criança? Para mim, isto foi um choque!".
O desconhecimento e a falta de elucidação são muito freqüentes entre as mulheres turcas. Neste ponto, a parteira iraniana as ajuda, respondendo a perguntas em turco, também fora da sala de parto.
As mulheres alemãs têm maior possibilidade de acesso à informação em questões relativas à gravidez, afirma Adele. Por exemplo, quando vão ao ginecologista ou através da internet. "Mas, o que acontece com as jovens turcas que vêm à Alemanha para casar, sem falar uma palavra em alemão? Como elas podem se informar?"
Nestes casos, a parteira é, ao mesmo tempo, tradutora e professora, além de tornar-se alguém em que elas podem confiar. Até mesmo para aquelas imigrantes, cuja língua ela não domina. O nome "Haashmi", comenta Adele, "lhes dá confiança. As mulheres se sentem seguras: ela também é estrangeira, ela me entende!"
"Venha logo"
Com as mulheres, ela também discute coisas que não têm a ver com o parto. "Tento esclarecê-las sobre os seus direitos no casamento. Eu lhes explico que não é problema se elas não conseguem preparar a comida para o seu marido na hora certa."
Também para os homens turcos, Adele presta serviços de esclarecimento. Como, por exemplo, para um que estava na iminência de tornar-se pai e não queria de forma alguma estar presente ao nascimento de sua filha. "Eu preciso de você aqui e agora, venha logo!", disse a Adele ao telefone, e desligou.
"Durante o serviço de parto, tive que explicar-lhe como massagear sua esposa, ele nunca o tinha feito", explica Adele. No final, ele ficou agradecido a Adele, por sua insistência,e por ele ter podido presenciar o nascimento da filha.
Uma nova vida
Adele, porém, não consegue sempre agradar a todos. Por não conhecer alguns costumes, ela não pode, muitas vezes, cumprir as expectativas de algumas famílias turcas.
Como, por exemplo, o costume de passar sal no corpo de um recém-nascido ou quando ela esquece, devido ao estresse do trabalho de parto, de sussurrar uma oração especial no ouvido do bebê.
"É um pouco vergonhoso para mim", confessa Adele. Ela sabe também o quão importante é o trabalho que faz: com a sua ajuda, começa uma nova vida – também para a mãe.