Repercussão
15 de junho de 2009Enquanto as palavras do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu – proferidas no último domingo (14/08) na Universidade Bar-Ilan, que concentra um alto número de radicais de direita – provocaram em Israel reações que vão do apoio à crítica, os palestinos rejeitaram completamente as premissas políticas contidas no discurso do premiê israelense.
Para os ministros do Exterior dos países da União Europeia (UE), contudo, o pronunciamento de Netanyahu significa "um passo na direção certa".
Segundo Javier Solana, que encabeça a diplomacia do bloco europeu, o fato de que "o governo do Likud [partido de Netanyahu] tenha reconhecido formalmente a solução de dois Estados" já indica um desenvolvimento no rumo certo. "Bom é o fato de que, agora, todos estão convencidos de que a solução de dois Estados é a única possível para o conflito no Oriente Médio", completou Solana.
Definição de Estado
Netanyahu apontou em seu pronunciamento a possibilidade de criação de um Estado palestino, sob a condição de que este seja desmilitarizado. "Um Estado não pode ser definido de forma arbitrária. Se o que Netanyahu mencionou pode realmente ser chamado de Estado é algo discutível, o fato de ele ter pronunciado a palavra Estado já é um pequeno primeiro passo", afirmou Carl Bildt, ministro sueco do Exterior.
"Este foi um passo importante e correto", disse também Günter Gloser, vice-ministro para questões europeias do Ministério do Exterior. Segundo ele, há ainda muitas questões a serem solucionadas entre as duas partes envolvidas no conflito na região.
Gloser conclamou ainda a UE a incentivar, com iniciativas próprias, a política pela paz no Oriente Médio iniciada pelo presidente norte-americano Barack Obama. Segundo Gloser, o envolvimento da Síria é, neste contexto, um dos pontos relevantes.
Aceitação evidente
Também para Jan Kohout, ministro tcheco das Relações Exteriores e atual presidente do Conselho da UE, o pronunciamento de Netanyahu aponta para a "direção certa" no conflito que assola há décadas o Oriente Médio.
"É claro que há uma série de outros elementos, que precisam ser analisados, mas o reconhecimento de um Estado palestino foi mencionado no discurso", salientou Kohout. Ao chegar ao encontro dos ministros do Exterior da UE em Luxemburgo, Kohout voltou a salientar: "A aceitação de um Estado palestino está aí".
Movimento positivo
Para Benita Ferrero-Waldner, comissária de Exterior da UE, as palavras de Netanyahu foram um passo inicial importante, embora uma série de questões ainda esteja em aberto. Estas, segundo a comissária, deverão ser discutidas em um processo de negociação. De forma geral, afirmou Ferrero-Waldner, há um "movimento positivo" na região.
A comissária reagiu, contudo, de forma comedida em relação à ideia de intensificação das relações entre Israel e a UE. "A proposta está de pé, mas isso precisa acontecer num contexto certo", disse Ferrero-Waldner.
Jean Asselborn, ministro luxemburguês do Exterior, afirmou que a intensificação das relações entre Israel e o bloco europeu "só será possível quando as negociações pela paz forem reiniciadas. E para isso é necessário mais do que aquilo que o premiê Netanyahu disse ontem". Asselborn lembrou que não haverá negociações pela paz se a política de assentamentos do governo israelense não cessar.
Jerusalém e refugiados
O ministro italiano do Exterior, Franco Frattini, lembrou ser "preocupante" a insistência de Netanyahu numa Jerusalém dividida. "Isso tem que ser obviamente negociado entre israelenses e palestinos", disse Frattini.
Além da questão a respeito da divisão de Jerusalém, Netanyahu manteve-se irredutível em relação ao retorno dos refugiados palestinos, que deixaram a região após a fundação do Estado de Israel, em 1948. Estes refugiados terão que abdicar de uma volta à região, afirmou o premiê israelense em seu pronunciamento.
Num encontro com Avigdor Liebermann, ministro israelense de ultradireita, que acontece na noite desta segunda-feira (15/08) em Luxemburgo, os representantes da UE pretendem acentuar que estão interessados nas boas relações com Israel, disse Solana. "Embora o nível dessas relações venha a depender muito das ações de cada uma das partes", resumiu o representante do bloco europeu.
Três organizações israelenses de defesa dos direitos humanos – B'Tselem, HaMoked e Physicians for Human Rights – conclamaram a UE a subordinar uma melhora das relações do bloco com o governo de Netanyahu a determinadas condições, como o cessar da política de povoamento e a abertura das fronteiras para a Faixa de Gaza.
SV/dpa/ap/afp
Revisão: Alexandre Schossler