Pé na Praia: A socialite de Copacabana
7 de dezembro de 2016Faz pouco tempo, no Rio de Janeiro, uma entrevistada me levou de cara para o seu quarto de dormir. Tive um encontro com uma herdeira de uma empresa de venda de petróleo, dona de um apartamento gigantesco em Copacabana, com grandes janelas com vista para o mar, cheio de móveis caros e objetos de arte. A dona da casa também vive aparecendo em capas de revistas, de braços dados com celebridades como Mick Jagger ou Claudia Schiffer. Faz o possível e o impossível para aparecer em escândalos de todo tipo. Outros jornalistas escrevem sobre suas viagens para destinos do jet set, sobre suas festas alucinantes e o uso exagerado de calmantes e estimulantes.
Mostrar o show de glamour da socialite também fazia parte da visita, e por isso, eu acho, fomos até o quarto de dormir: porque, no caminho até lá, pude apreciar os closets abarrotados de roupas, metros e mais metros de alta costura. Para mim, foi irrelevante. "O dinheiro vai para onde ele se sente bem-vindo", esclareceu a socialite, e não deixou dúvidas a esse respeito: neste apartamento de praia espaçoso estavam sempre preparando uma festa de boas vindas para o dinheiro.
"Vou ter que dar uma fugida de uns 20 minutinhos para uma entrevista para uma rede de TV!", sussurrou de repente a multimilionária e desapareceu – por muito tempo. Fiquei sem saber direito se ela iria voltar ou não. Fiquei numa situação estranha: sozinho com um copo d'água, como eu poderia terminar a entrevista e o artigo?
Naquela época eu não sabia como era com as empregadas – descobri nesse dia em Copacabana. "Esta patroa destrata um empregado após o outro", sussurra no meu ouvido uma mulher idosa e negra, que veio me fazer companhia e trazer mais água. Usava um espanador branco, tirava o pó ao redor do visitante e era óbvio que estava se divertindo com a visita do jornalista do semanário alemão Die Zeit. Seu serviço, contou, começava às seis horas da manhã e ia até as dez da noite. Ela dormia no serviço e recebia por mês o equivalente a 400 euros. "E ela fica gritando o tempo todo: limpa aqui, arruma ali! Mas à noite eu tranco minha porta", diz a empregada doméstica, balançando a cabeça significativamente em direção ao quarto de dormir. "Não quero saber de nada que acontece ali!"
Nas boas horas em que minha entrevistada continuou desaparecida fiquei sabendo de muito mais do que na própria entrevista, mais do que nas respostas de rotina prontas e ensaiadas mil vezes pela herdeira de petróleo. Uma indiscrição atrás da outra – sobre a sua rotina diária, outros empregados, visitas de famosos, visitas duvidosas, dívidas e acordos ainda mais duvidosos, festas secretas. Não usei nada disso para o meu artigo – o jornalismo que eu faço não tem muito que ver com fofocas.
Mas dou um conselho para as outras herdeiras ricas no Rio de Janeiro: cuidado com jornalistas e serviçais ciumentos e cheios de inveja social! "Ela falou ao senhor sobre as viagens?", a empregada se apressava para contar, antes que, lá fora, o elevador fizesse 'ping!', e a patroa voltasse para seus domínios. "Por mim poderia viajar muito mais. Eu adoraria isso! Ela pode viajar quando quiser. Eu não posso nunca."
Thomas Fischermann é correspondente para o jornal alemão die ZEIT na América do Sul. Em sua coluna Pé na Praia, publicada às quartas-feira na DW Brasil, faz relatos sobre encontros, acontecimentos e mal-entendidos - no Rio de Janeiro e durante suas viagens. Pode-se segui-lo no Twitter e Instagram: @strandreporter.