Os alemães e seus pombos-correios
26 de janeiro de 2003A columbofilia, antigamente privilégio das casas reais e dos nobres, tornou-se um dos passatempos prediletos dos trabalhadores, na segunda metade do século 19. À Alemanha, o gosto pela criação de pombos-correios chegou através de Aachen, cidade situada na fronteira com a Bélgica, de onde o hobby foi importado. Ele se tornou especialmente popular entre os mineiros do Vale do Ruhr, e ainda hoje registram-se no país cerca de 75 mil aficionados.
Como explicar a fascinação? "Quando a gente solta 60, 70 aves, ou mesmo apenas 40, e fica esperando para ver qual vai ser a primeira a retornar — é uma sensação incrível", conta o columbófilo Franz Reisen. "A gente não é apenas criador, é também treinador. É como se se treinasse um corredor de longa distância", acrescenta.
Quem pensa em primeiro lugar nas importunas aves que infestam as cidades, poluindo edifícios e monumentos, provavelmente nunca viu um pombo-correio de perto. "O furúnculo no nariz é bem maior do que o de uma pomba comum. Além disso, os pombos-correios são mais bem cuidados, a plumagem bilha", entusiasma-se Martin Wagner, outro criador.
Passatempo masculino
Muito tempo e muito dinheiro são empregados no hobby: visita a feiras especializadas; compra de grãos vitaminados, gaiolas, comedouros, bebedouros; planejamento dos acasalamentos, fiscalização da choca, treinamento das aves. Mas parece valer a pena: um pombo-correio pode ser vendido entre 40 e 200 euros em média, outros custam muito mais que isso.
Talvez seja justamente a intensidade dos cuidados e dedicação que o passatempo requer que explica por que as mulheres não o vejam com bons olhos. Fato é que existem poucas mulheres entre os criadores de pombos, e as esposas dos que se dedicam ao hobby raramente compartilham o entusiasmo dos maridos.
Outros tempos, outras tarefas
Hoje os pombos-correios servem mais para dar prazer a seus criadores e fascinar os espectadores, em revoadas comemorativas. Mas já desempenharam um papel importante na função que está expressa em seu nome: a de portadores de mensagens.
A primeira agência de notícias que se utilizava dos pombos-correios foi fundada em 1832, na França. E as diligentes aves estão também nas origens de uma das maiores agências do mundo: a Reuters. Em 1850, o alemão Paul Julius Reuter — cujo nome de nascimento era Israel el Beer Josaphat — criou em Aachen, com 40 pombos-correios, um serviço de transporte de mensagens que cobria a lacuna existente nos serviços de telégrafo entre aquela cidade e Bruxelas. Um ano mais tarde, Reuter transferiu-se para Londres, onde fundou a agência que ainda hoje fornece informações ao mundo inteiro, utilizando-se — a exemplo de tantas outras — dos mais modernos meios de comunicação.