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Opinião: Xi Jinping, o presidente eterno

Dang Yuan
12 de novembro de 2021

Partido Comunista governa a China desde 1949, mas nenhum de seus políticos jamais teve tanto poder quanto Xi, opina o jornalista Dang Yuan. Líder chinês garantiu mais um mandato até 2027.

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Pessoas caminham em calçada em frente a cartaz com a figura de Xi Jinping. O presidente de 68 anos assegurou sua permanência como líder da China para além de 2022
Xi Jinping, de 68 anos, assegurou sua permanência como líder da China para além de 2022Foto: Koki Kataoka/AP/picture alliance

Trata-se de um título que exige atenção: os 348 delegados do Comitê Central do Partido Comunista da China (CCP) aprovaram sua terceira "Resolução Histórica". O documento, porém, tem só um propósito: consolidar no poder um homem que, segundo as regras anteriores do partido, deveria se retirar da política no próximo ano, depois de dois mandatos de secretário-geral.

Xi Jinping, de 68 anos, assegurou sua permanência como líder do Comitê Central para além do 20º Congresso do Partido Comunista, em novembro de 2022. A nova resolução deixa isso claro, de maneira inequívoca. Como presidente da República Popular e da Comissão Central Militar (comandante supremo das Forças Armadas), Xi vai ditar os rumos do país até 2027.

Governar e assegurar o poder

O poder vicia. É por isso que, no início dos anos 1980, o visionário líder chinês Deng Xiaoping limitou a permanência no cargo dos ocupantes mais altos do poder a dois mandatos de cinco anos, e com boas razões.

Até hoje, todos os seus sucessores acataram esse limite. Jiang Zemin e Hu Jintao governaram a China por dez anos, nada além disso. 

Hoje, porém, a realidade é outra. O Partido Comunista governa a China desde 1949, mas nenhum político em seus cem anos de história teve tanto poder quanto Xi tem hoje. E a China nunca foi tão poderosa quanto é hoje em dia – em termos políticos, econômicos e militares.

Xi, que assumiu o poder em 2012, jamais deixou dúvidas de que desejava ficar mais tempo, e conseguiu garantir isso. Por exemplo, em 2017, o Comitê Permanente do Politburo não admitiu nenhum membro mais jovem do Comitê Central que pudesse vir a suceder Xi em 2022, ao final dos dois mandatos consecutivos. Isso foi algo inédito.

Em 2018, a pedido de Xi, foi aprovada uma emenda constitucional que aboliu o limite de mandatos presidenciais. Já a quantidade de anos que os membros do Politburo podem se manter no poder jamais chegou a ser limitada pela Constituição.

Mão de ferro e temores de guerra

Xi é visto publicamente, dentro e fora do país, como o garantidor da ascensão da China e de sua crescente prosperidade. Afinal, foi ele que proclamou a iniciativa Nova Rota da Seda, que fez com que a China colocasse em sua órbita países da Ásia, da África e da Europa e, ao fazê-lo, desafiasse a ordem mundial em vigor desde a Segunda Guerra Mundial.

Ele administra o partido com mão de ferro. Indica para os cargos mais importantes apenas aqueles nos quais confia. Se seus rivais não jurarem fidelidade a ele publicamente, ele os persegue sem misericórdia. Um delegado do Comitê Central, por exemplo, está ausente há alguns dias. Ele é investigado desde outubro por "graves violações das leis e da disciplina do partido”. Ironicamente, ele é um ex-ministro da Justiça. A suspeita é que ele pertença à facção errada dentro do partido.

Fora do Comitê Central quase não se fala em justiça socialista em concordância com a missão do partido. Ao contrário, Xi se apoia fortemente em um confronto ideologizado com os Estados Unidos. Esta é a sua maneira de tentar desafiar o capitalismo e legitimar seu próprio comando comunista. 

Nesse embate entre os dois sistemas, Taiwan é usada como trunfo. Em 2005, a República Popular aprovou a Lei Antisecessão, que legitima possíveis ataques à ilha. O uso de força militar contra aquela que Pequim considera uma província secessionista levaria os Estados Unidos e seus aliados a um conflito armado.

Tabus mantidos e quebrados

Governos e partidos autoritários jamais usam os tempos de turbulência para criar paz duradoura ou dar ao povo uma perspectiva de futuro. Ao contrário, preferem criar medo e usar o medo para governar, como uma ameaça de pano de fundo que os permite ficar no poder por mais tempo.

Houve uma tal onda de medo na semana passada que pessoas nas principais cidades chinesas começaram a comprar e estocar arroz e óleo de cozinha. Muitos acreditavam que Xi iria atacar Taiwan a qualquer momento.

Em seu comunicado final após o congresso, o Comitê Central não economiza nos elogios a si mesmo. É um texto repleto de autocongratulações e autoglorificações. Acima de tudo – e isso é algo inédito – a "Resolução Histórica" é um documento que trata Xi como uma divindade, destacando suas "conquistas gloriosas". Suas ideias são descritas como "marxismo do século 21" e como um "salto quântico do pensamento marxista da China".

Ao adotar essa narrativa, o partido rompe um tabu. Mas outros permanecem. Erros históricos, como a Revolução Cultural (1966-1976), da qual o próprio pai de Xi foi uma vítima, ou a violenta repressão aos protestos estudantis de 1989, ainda não podem ser mencionados.

O jornalista da DW Dang Yuan escreve sob um pseudônimo para garantir sua segurança, assim como de sua família na China.