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Opinião: Uma chance para "Merkron"!

9 de maio de 2017

É hora de uma cooperação franco-alemã mais estreita em prol da UE. Pois, se Macron fracassar, uma eurocética poderá se mudar para o Eliseu daqui a cinco anos, opina o correspondente em Bruxelas, Bernd Riegert.

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Bernd Riegert é correspondente da DW em Bruxelas

O homem mostrou coragem: ao som do Hino da Europa, ele adentrou como presidente eleito a festa da vitória na noite eleitoral, algo que nenhum dos demais chefes de Estado e governo da União Europeia (UE) ousaria fazer. As expectativas se voltam para o novo presidente francês, Emmanuel Macron. Não só na França muitas pessoas depositam esperança nele. Também no resto da Europa muito se espera dessa suposto menino-prodígio, desse Obama ou Trudeau francês, ou quaisquer outras comparações.

O próprio Macron reconheceu em seu primeiro discurso como presidente eleito, no pátio do Museu do Louvre, que será difícil fazer jus às altas expectativas.

Para a União Europeia abalada pela crise, no entanto, é uma boa notícia saber que, na França, o chefe de Estado será alguém tão enérgico e carismático quanto o ex-presidente americano ou o atual primeiro-ministro canadense. Em nível europeu, principalmente o governo alemão deve aproveitar agora essa magia inicial. Está na hora de azeitar novamente a enferrujada locomotiva franco-alemã e retirá-la do galpão europeu. A Europa precisa de ideias novas depois da crise do euro, do Brexit e das tendências nacionalistas na Polônia, na Hungria e em outros países-membros.

Essas ideias novas podem vir de Macron. Com suas convicções sobre a abertura e a força inovadora da Europa, ele segue a mesma linha que a chanceler federal alemã, Angela Merkel. É hora de um "Merkron", ou seja, de uma cooperação franco-alemã mais estreita. Esse foi o caso, em parte, entre Merkel e o ex-presidente Nicolas Sarkozy. Os dois se fundiram em "Merkozy".

Também "Merkollande", ou seja, o trabalho conjunto entre a chefe alemã de governo e o presidente François Hollande funcionou bem no início. Mas logo Hollande provou ser um fiasco, sem saber se impor na Europa, impopular na França, fracassado em suas reformas. Formalmente, Merkel e Hollande sempre estiveram lado a lado, mas verdadeiros impulsos para a UE nunca existiram.

A Alemanha exerce a liderança na Europa como uma "potência relutante" (The Economist). A França está acoplada à locomotiva e é apenas arrastada. Isso deve e pode mudar quando o jovial e superinteligente novato no Palácio do Eliseu receber apoio. Macron terá dificuldades para impor suas reformas econômicas na França. Por isso, a UE e a Alemanha não deveriam colocar nenhuma pedra em seu caminho.

O futuro desenvolvimento da união monetária ainda vai ser motivo de muita discussão, porque as visões de Macron são muito mais amplas que, por exemplo, as do ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble. O futuro presidente francês quer introduzir o cargo de ministro de Finanças para a zona do euro, com um orçamento próprio, programas de investimento estatal, risco compartilhado – algo difícil de realizar com a atual equipe que se encontra em Berlim. No entanto, é fato que haverá eleições em breve na Alemanha, e Schäuble não vai ficar para sempre no cargo de ministro.

Macron quer devolver a competitividade e a autoconfiança a seu país – não porque isso lhe é ditado pela Alemanha, mas sobretudo porque é do interesse dos franceses. Independentemente do resultado das eleições alemãs, em setembro próximo, Berlim precisa de um parceiro em pé de igualdade na Europa. Se Macron se esforçar, a UE vai se afrancesar novamente. Isso será percebido até pelos britânicos durante a sua tentativa de transformar o disparate do Brexit num sucesso para si mesmos. É melhor eles não contarem com a leniência dos franceses.

Em duas semanas, Macron participará pela primeira vez de uma cúpula da Otan em Bruxelas, onde deverá se deparar com o infantil Donald Trump. Que contraponto refrescante esse homem jovial e inteligente é para o presidente americano, um narcisista e nacionalista!

O resultado eleitoral na França freou os populistas na Europa, mas eles ainda estão longe de terem sido derrotados. A Frente Nacional ainda é um dos maiores partidos franceses. Se, com a ajuda da Alemanha, Macron não conseguir colocar a União Europeia no caminho certo, pode ser então que, daqui a cinco anos, uma eurocética radical se mude para o Palácio do Eliseu.

Bernd Riegert
Bernd Riegert Correspondente em Bruxelas, com foco em questões sociais, história e política na União Europeia.