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Opinião: Temos que investir na terra

Monique Barbut
17 de junho de 2015

Esgotamos terras férteis mais rápido do que elas conseguem se recuperar. É hora de cuidar do solo, opina Monique Barbut, secretária executiva da Convenção das Nações Unidas para Combate à Desertificação (UNCCD).

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Nordkorea Dürre
Foto: picture-alliance/Kyodo/Maxppp

Todos nós sabemos que quem gasta mais do que ganha chega, mais cedo ou mais tarde, a um ponto em que tudo entra em colapso. É a chamada falência. Isso também se aplica aos recursos naturais, tais como o solo. Imaginemos que temos um saldo em uma conta de terras, em vez de uma conta bancária. Se continuarmos sacando sem fazer depósitos, vamos chegar a um saldo negativo. E atualmente nossa conta não vai muito bem.

Exploramos terras férteis mais rápido do elas conseguem se recuperar. Às vezes, a gente simplesmente abandona o solo empobrecido. Não investimos o suficiente para garantir que haverá terras férteis suficientes no futuro. A degradação ou desertificação dos solos acontece rápido – tão rápido quanto uma conta bancária chega no vermelho. Estamos chegando a um ponto em que não há retorno. Precisamos mudar nosso curso.

Globalmente, temos cerca de 15 bilhões de hectares de terra, mas apenas a metade delas é cultivável. Este é o nosso crédito agrícola. Dele, nós já esgotamos quase um quarto.

A cada ano degradamos uma média de 12 milhões de hectares de terra. Nós até conseguimos recuperar a maior parte, mas já abandonamos 500 milhões de hectares de terras agrícolas degradadas. Além disso, mais da metade da nossa terra fértil está severa ou moderadamente danificada. Isso não é sustentável.

Para viver de forma sustentável, cada um de nós necessita de 0,07 hectar (700 metros quadrados) de terra cultivável. Isso é o mínimo. Em 1961, cada pessoa tinha à disposição 0,45 hectar, ou 4,5 mil metros quadrados. Em 2011, 50 anos depois, restavam, matematicamente, apenas 0,2 hectar ou 2 mil metros quadrados por pessoa. Não podemos mais nos dar ao luxo de perder outros 2,5 mil metros quadrados.

Hoje temos o triplo do mínimo necessário. E a demanda está aumentando: terra para biocombustíveis e para florestas que possam armazenar CO2. Além disso, a grilagem de terras se alastra, pois os recursos hídricos estã ficando mais escassos em todo o mundo.

UNCCD Monique Barbut Exekutivsekretärin
Monique Barbut comanda a UNCCDFoto: DW/H. Jeppesen

A urbanização também está aumentando e continuará a ocupar mais terreno. Como consequência das mudanças climáticas, longos períodos de seca vão se intercalar com inundações e destruir o solo. Ao mesmo tempo, a população mundial está crescendo. Todos esses fatores vão requerer terras que precisamos para o cultivo de alimentos.

Se não mudarmos nossos hábitos, teremos que conseguir anualmente pelo menos quatro milhões de hectares de novas terras, apenas para poder suprir as necessidades alimentares até 2015. A crescente demanda pode levar a crises – para evitá-las precisamos fazer depósitos para aumentar o saldo de nossa conta de terras.

Primeiro, devemos evitar a degradação de mais terras e ecossistemas. Em segundo lugar, ao nos apropriarmos de novas áreas, devemos, ao mesmo tempo, recuperar solos anteriormente degradados e reintegrá-los a ecossistemas equivalentes. Isso irá melhorar nosso saldo.

Esta visão pode se tornar um novo padrão global em setembro, caso a comunidade internacional entre em acordo sobre os chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Mas podemos fazer ainda mais: podemos aumentar o saldo da nossa conta de terras se investirmos em recuperar o máximo possível dos 2 bilhões de hectares de terra degradada.

Não temos tempo a perder. A perda de solo ameaça aqueles que são a parte mais vulnerável da sociedade – do Sudão à Síria. Quando as pessoas perdem seus meios de subsistência, a consequência é o êxodo em massa. Até 2045, possivelmente mais de 135 milhões de pessoas deixarão seus países por causa da devastação do solo.

O economista americano Milton Friedman popularizou a frase "there is no such thing as a free lunch". Livremente traduzido: nada é de graça! Ele estava se referindo à economia de mercado. O ditado se aplica também ao uso da terra. Terra fértil é limitada. A nossa sobrevivência depende disso. Se continuarmos a usar sem reinvestimento, isso terá consequências. Não existe comida de graça. Principalmente quando se trata da terra de onde tiramos os alimentos.