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Subestimar a sede de poder de Trump continua perigoso

Berlin DW  Michaela Küfner
Michaela Küfner
16 de novembro de 2022

Donald Trump já mostrou que não vai deixar nada nem ninguém impedi-lo de buscar um segundo mandato como presidente. Muito menos os eleitores. Um perigo não só para a democracia nos EUA, opina Michaela Küfner.

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Donald Trump
Trump anunciou pré-candidatura à Presidência em 2024Foto: Andrew Harnik/AP/picture alliance

Mesmo antes de Donald Trump anunciar o que todos esperavam, ele já havia pedido doações para sua candidatura de 2024 em seu site. "Para tornar a América grande novamente", proclamou, ele se apresentou como pré-candidato à Presidência. Seguiram-se minutos de aplausos de seus discípulos políticos, que ele reuniu em seu clube de golfe em Mar-a-Lago, na Flórida. A mídia das "fake news" não era bem-vinda.

A maior especialista em Trump nos Estados Unidos, a jornalista do New York Times Maggie Habermann, o descreveu repetidas vezes, de forma impressionante, como um homem que, em caso de dúvida, sempre dá um passo à frente. Como agora. Para Trump, é mais lógico do que nunca disputar a Presidência depois de os eleitores americanos terem rejeitado em série candidatos apoiados por ele nas eleições de meio de mandato.

Desejo republicano de normalidade

Especialmente nos chamados swing states, como Michigan, Arizona e Nevada, que ora votam assim, ora, assado, fãs de Trump não quiseram dar seu voto a alguém apegado à mentira das eleições presidenciais roubadas em 2020. Lideranças republicanas também estão falando sobre uma "vitória da normalidade" nas eleições para o Congresso.

Mas Trump há muito faz parte da normalidade republicana. Ele próprio ajudou a engrandecer seu provável maior rival para a candidatura republicana à Presidência, o recém-reeleito governador da Flórida, Ron DeSantis, chamado de "Trump com cérebro". Mas Trump não odeia nada mais do que alguém que ousa sair de sua sombra. Indignado, ele descreve DeSantis como "hipócrita" desde que surgiu como um possível rival.

Ron DeSantis
Ron DeSantis, o "Trump com cérebro" Foto: Marco Bello/REUTERS

Mike Pence, ex-vice-presidente de Trump, também se prepara para ocupar o Salão Oval. So help me God (Deus me ajude, em tradução livre) é o nome de seu livro lançado justamente nesta semana, acompanhado de várias entrevistas nas quais ele "revela" a ameaça representada por Trump em 6 de janeiro de 2021, dia da invasão do Capitólio.

Uma horda de rivais no próprio partido, resultados ruins para seus candidatos nas eleições de meio mandato, e ainda as muitas investigações que correm contra ele − entre outras coisas, por causa da tentativa de manipulação eleitoral na Geórgia e de documentos confidenciais encontrados em seu resort em Mar-a-Lago: de acordo com as leis da política, os ventos atualmente sopram contra Trump.

O divisor Trump

Mas são precisamente essas leis que ele mesmo reescreveu repetidas vezes. Sua arma política é a divisão. E, se for por ele, os processos são apenas sua munição. Pois ele os citará como prova de "perseguição".

Cerca de um terço dos eleitores republicanos, estima-se, acredita nisso. Apesar de todo o desencanto com Trump mesmo nas fileiras republicanas, eles permanecem unidos em apoio a ele.

Se todo um campo de republicanos se sentir compelido a salvar o partido de Trump em 2024, o tiro pode sair pela culatra. Porque um terço [dos votos] poderia bastar com folga para uma vitória nas primárias pela candidatura republicana. E, mesmo que não seja assim, ele ainda ganha, porque uma coisa é certa: Donald Trump desfigurou o Partido Republicano. O próprio partido não se reconhece mais.

O trumpismo tornou-se uma constante na política dos EUA. Independentemente de seu hospedeiro político, ele se alimenta das divisões na sociedade americana. Conter isso depende, ao final, da estabilidade do Ocidente e da democracia no mundo.

No fim das contas, o monstro político Trump só pode ser derrotado pela maioria silenciosa. E as eleições de meio mandato acabaram de mostrar que ela ainda existe em todos os campos políticos.

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Michaela Küfner é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal da autora, não necessariamente da DW.