A credibilidade da política dos Estados Unidos para o Oriente Médio segue se erodindo. Primeiro o presidente Donald Trump criou confusão com seus anúncios de retirada e não retirada das tropas americanas na Síria. E agora ele põe mais lenha na fogueira do conflito na região, com sua política de "pressão máxima", baseada unicamente em roçar de espadas, sem o acompanhamento de nenhuma diplomacia.
Mesmo com Trump e seu conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, enviando uma armada para o Golfo Pérsico, os linhas-duras em Teerã não se movem como Washington desejaria. Pois, embora não contem com uma guerra, eles também não se esquivariam dela. E assim o cenário ameaçador trumpista cai no vazio.
O procedimento americano tem o defeito de ser fracamente legitimado. Fotos de mísseis lançados sobre pequenos navios de transporte no Golfo Pérsico não são prova suficiente de ofensivas iranianas iminentes. A coisa toda lembra demais a justificativa do governo George W. Bush para a Guerra no Iraque, em 2003.
A ameaça que parte do Irã permanece há anos inalterada e conhecida. No entanto, um equilíbrio da dissuasão cuidou para, ainda assim, manter a calma no Golfo Pérsico. Só as ações americanas – envio de um porta-aviões, anúncio de novas tropas, retirada do pessoal diplomático do Iraque – quebrou esse equilíbrio.
No entanto, não há sinais de que o Irã esteja ameaçando um outro país no Iraque. Por isso o Ministério da Defesa alemão reavaliou a situação de segurança no país, de forma que a missão de treinamento das Forças Armadas alemãs tenha continuidade no país.
Apenas aparentemente os vencedores da atual escalada americana no Golfo são a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos. Ambos endossam o procedimento dos EUA, que continuam se calando sobre a guerra por procuração que os dois travam no Iêmen.
De fato eles lucram por o presidente Trump querer reduzir a zero as exportações de petróleo iranianas. Mas os recentes ataques contra navios-tanques diante do Estreito de Hormus também mostram quão vulneráveis são as exportações de petróleo desses países.
Há um ano Trump persegue sua política de "pressão máxima" contra o Irã, sem ter alterado em nada o comportamento ou a política iraniana. Em vez disso, criou um cisma no front ocidental, até então fechado, ao rescindir o acordo nuclear de 2015, unilateralmente e contra a vontade da Europa.
Esse acordo – conquistado pela comunidade internacional com sanções eficazes e concessões diplomáticas credíveis – acabara de provar que chances de sucesso tem a diplomacia com o Irã. A atual política, por sua vez, não serve a ninguém.
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