O novo copresidente do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), Tino Chrupalla, é do tipo que gosta de se apresentar como um realista. Ele promete lutar pelas pessoas que "acordam para trabalhar quando ainda está escuro e voltam para casa quando já está escuro".
Com formação como pintor de paredes, ele não é um homem de grandes palavras. No congresso do partido AfD no último final de semana, ele instou seus correligionários a moderar sua escolha de palavras no futuro.
Junto ao colíder partidário, Jörg Meuthen, Chrupalla enfatiza querer unir o partido. Eles tentam preencher os abismos apenas com suas biografias: Chrupalla, o novato, é um operário do Leste alemão, ou seja, da antiga Alemanha Oriental. Meuthen, o copresidente com experiência no cargo, é um professor de Economia originário da antiga Alemanha Ocidental.
Apresentando-se como políticos moderados, a nova dupla de líderes pretende puxar, pela direita, o tapete dos democratas-cristãos de Angela Merkel. E quer, no futuro, também se tornar elegível por pessoas que até agora consideram repulsivas as declarações abertamente racistas e antissemitas de muitos políticos da AfD.
No entanto, os dois líderes da AfD estão longe de ser tão "moderados" quanto gostam de se mostrar. Em entrevista à emissora alemã ZDF, por exemplo, Chrupalla disse no domingo (1°/12) que não considerava o conceito nazista "Umvolkung" (substituição étnica) como de extrema direita. Recentemente, ele acusou Merkel de utilizar métodos da Stasi (polícia secreta da antiga Alemanha Oriental), culpando-a de ser responsável por um suposto "muro divisor antialemão" no país.
Além disso, Meuthen e Chrupalla são apoiados por partes da "ala" radical do partido – uma corrente partidária dominada por Björn Höcke, um homem que usa jargões verdadeiramente nazistas sem nenhum constrangimento.
Os demais partidos tradicionais alemães não se deixam enganar pela suposta fachada moderada da AfD. Até agora, pelo menos. Após os sucessos eleitorais dos populistas de direita em três estados da antiga Alemanha Oriental no segundo semestre deste ano, eles tiveram que se unir para formar maiorias sem a AfD.
Mesmo que em alguns municípios, a União Democrata-Cristã (CDU), por exemplo, já esteja trabalhando com a AfD, oficialmente, todas as legendas alemãs excluem uma cooperação com os populistas de direita.
E isso tem que continuar assim. Se a execração da AfD for quebrada, isso se tornaria uma quebra de tabu que mudaria a Alemanha. Uma quebra de tabu que mostraria a todas as pessoas que vivem neste país, mas não se enquadram na visão de mundo da AfD, que elas não são bem-vindas aqui.
Uma quebra de tabu que tornaria o ódio e a incitação a ele ainda mais socialmente aceitáveis. E uma quebra de tabu que traria mudanças políticas imediatas. Em muitos parlamentos estaduais, a AfD já pede, por exemplo, para que se cancelem os subsídios para associações contra o extremismo de direita ou iniciativas contra o racismo.
Nas pesquisas de intenção de voto na Alemanha, a aprovação da AfD gira, atualmente, entre 13% e 14%, não tendo, portanto, aumentado significativamente em comparação com as eleições parlamentares de 2017. No entanto, se a AfD conseguir se vender como uma legenda moderada, convencendo assim mais eleitores, ela exigirá com mais firmeza no futuro o direito de participar do governo.
Se os outros partidos não conseguirem reconquistar os eleitores que desertaram para a AfD, em muitos lugares da Alemanha haverá somente coligações instáveis. E isso teria consequências para a democracia e para a nossa vida em comum, o que poderia ser mais do que doloroso para os defensores de uma Alemanha cosmopolita e liberal.
______________
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube
| App | Instagram | Newsletter