O novo ano ainda nem completou duas semanas, e a Alemanha já está mais uma vez em polvorosa. Foram colocadas três pedras no caminho dos observadores da política, redes sociais e imprensa, e quase todos fizeram questão de tropeçar numa atrás da outra.
No primeiro caso, divulgaram-se dados de políticos, jornalistas e personalidades públicas da Alemanha que, na verdade, deveriam ter permanecido confidenciais: números de celulares, endereços, até mesmo conversas privadas.
Isso é péssimo, não há dúvida. Só que não se tratou de nenhum ciberataque do serviço secreto russo, como políticos e jornalistas imediatamente presumiram, e sim do ato de um jovem de 20 anos da cidade de Hessen. Os observadores foram simplesmente apressados demais.
No fim das contas, a prefeita da cidade natal do hacker se disse orgulhosa dele, e um político da União Democrata Cristã (CDU) quer até lhe arranjar um emprego. Durma-se com um barulho desses.
E aí o partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) anuncia um "atentado assassino" contra o chefe de sua bancada parlamentar estadual de Bremen, Frank Magnitz. O também deputado federal teria sido abatido com um caibro e, caído no chão, espancado a pontapés.
Mas o vídeo divulgado pela polícia no fim da semana não mostra nem caibro, nem chutes contra o político derrubado. O que se vê é um ataque vicioso, de quem quer que seja, sem dúvida digno de ser condenado e punido penalmente. Entretanto a essa altura todos já tinham feito o maior alarde, até mesmo o presidente federal: tratava-se de uma ruptura na história da Alemanha, violência como na época da República de Weimar, e por aí foi.
E, para terminar, veio o copresidente do Partido Verde, Robert Habeck. Numa situação em que em alguns estados do Leste Alemão a AfD ameaça se tornar a legenda mais forte, ele disse num vídeo, no Twitter, que a Turíngia deve se tornar livre e democrática. Claro que soa estúpido, mas é óbvio que ele quis dizer que o estado deve permanecer, não ficar, democrático.
Contudo seus adversários políticos não perderam a oportunidade de entendê-lo mal, de propósito, e entraram numa exaltação sem limites. Habeck – cujas mensagens privadas para a esposa e o filho tinham sido divulgadas pouco antes por um rapaz de 20 anos (ver acima) – se aborreceu tanto, que saiu imediatamente do Twitter e do Facebook, no que muitos também consideraram uma reação precipitada.
Três vezes teria sido possível refletir: o que é indignação direcionada, o que são informações garantidas, e como seria uma reação razoável à situação? Três semanas depois do escândalo em que o repórter Claas Relotius, da conceituada revista Der Spiegel, foi desmascarado como mentiroso, um jornal alemão estampava na primeira página: "Com caibro e capuz".
O jornalismo já perdeu crédito demais para poder se permitir esse tipo de desleixo. Transcorrem em 2019 as eleições para o Parlamento Europeu, que poderão ser alvo de notícias falsas e manipulações como nenhuma outra antes. Por mais que se goste de uma notícia rápida, políticos, profissionais de imprensa e cidadãos precisam tomar tempo para verificar os fatos com cuidado. Os tempos atuais são sérios demais para tiros à queima-roupa e indignação automática.
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