Boas notícias não fazem há tempos mais parte do cotidiano das relações russo-alemãs. Seja por causa da Guerra na Ucrânia, o apoio russo ao ditador sírio Bashar al-Assad ou as retaliações mútuas no caso Skripal, há anos temas negativos são sucedidos por outros e relacionamento entre Oeste e Leste está sempre atingindo novos pontos baixos.
O fato de que a Alemanha não desempenhou um papel político internacional importante por quase um ano também não facilitou as coisas – a campanha eleitoral e a difícil formação de um novo governo Berlim eram consideradas mais importantes.
Otimismo cauteloso
Nos últimos dias, vários ministros federais se dirigiram a Moscou. Agora a chanceler federal negociou diretamente com Putin. E de repente algo parecido com um otimismo cauteloso está se fazendo sentir. Aparentemente, o presidente concorda em continuar a deixar gás russo ser transportado por meio de dutos que passam pela Ucrânia mesmo após a conclusão de uma nova linha do gasoduto Nord Stream, que vai passar no fundo do mar Báltico. Kiev então poderá a continuar a faturar bilhões.
Mas é claro que o diabo mora nos detalhes: o governo ucraniano está satisfeito com tal informação? Quem pode garantir isso: o governo russo? A União Europeia? Ambos? Mesmo após a cúpula russo-alemã, várias questões permanecem em aberto. O governo ucraniano continua desconfiado. Se considerarmos o que aconteceu nos últimos anos, não há como culpar Kiev. Mas a desconfiança por si só não é suficiente para resolver problemas. A Ucrânia tem que negociar – com o apoio da Alemanha e da UE. Especialmente se Moscou está pronta para fazer concessões ao Protocolo de Minsk. Putin sinalizou isso em Sochi.
É bem possível que a chanceler e o presidente russo se encontrem novamente em breve para negociar um acordo de paz para o leste da Ucrânia. Os presidentes da Ucrânia e da França então vão se sentar à mesa. Todos sabem que quanto mais o conflito perdurar, mais difícil será a sua solução. Não há alternativa ao Protocolo de Minsk.
Merkel e Putin também não veem alternativa ao acordo com Irã. Ambos os países querem preservá-lo, assim como outros países europeus e os chineses – mesmo que os americanos tenham sabotado a resolução.
Se Washington está mesmo disposta a impor sanções contra empresas estrangeiras que continuem a fazer negócios no Irã, será preciso esperar para ver. A ironia da história é essa: a saída dos EUA do acordo com o Irã acabou por reaproximar os europeus e os russos. E ainda isso: as ameaças dos EUA ao Irã ajudaram a elevar o preço do petróleo no mercado mundial – pela primeira vez em anos o barril ultrapassou a cotação de 80 dólares. Isso acabou por gerar um fluxo extra de dinheiro para os cofres russos – também um efeito colateral não intencional da errática política externa dos americanos.
Uma longa lista de diferenças
Ninguém pode acusar Angela Merkel de não ter abordado temas desagradáveis com o presidente Putin. Ela falou claramente: deplorou as restrições à liberdade de imprensa e a perseguição de intelectuais na Rússia; criticou os ataques de hackers ao Ministério das Relações Exteriores da Alemanha e o apoio russo ao governo sírio. A lista de tópicos foi longa. Mas a chanceler não parece ter desanimado. É claro que a desconfiança mútua permanece. Nos últimos anos, Moscou queimou muitas pontes políticas. Reconstruir tudo isso vai demandar tempo.
_______________
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App | Instagram