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Opinião: Julgamento de Gröning tem valor simbólico

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Felix Steiner
21 de abril de 2015

É importante, sim, julgar o "Contador de Auschwitz", mesmo aos 93 anos e com sete décadas de atraso: para os sobreviventes, para a evolução da Justiça alemã, para o próprio réu, opina o jornalista Felix Steiner, da DW.

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Felix Steiner, da redação alemã da DW

Oskar Gröning é apelidado pela mídia alemã de o "Contador de Auschwitz". Com a devida permissão: esse título é uma besteira. Se ele tivesse sido realmente o contador do campo de extermínio, talvez se pudesse até mesmo lhe ser, de certo modo, grato. Pois é à minúcia dos contadores de Auschwitz que devemos nosso conhecimento sobre a gigantesca dimensão do assassinato em ritmo industrial dos judeus da Europa.

Mais adequada seria, talvez, a denominação "Carregador de Malas de Auschwitz". Pois uma das tarefas de Gröning era levar embora as bagagens, largadas na rampa dos trens, daqueles que eram levados para as câmaras de gás assim que chegavam ao campo.

"Carregador de malas" (Kofferträger) é como se chamam na Alemanha, até hoje, os que numa empresa não decidem nada, mas apenas executam submissamente as ordens de outros. Oskar Gröning era bem um desses: o recruta de primeira classe que foi promovido a suboficial na máquina de extermínio de Auschwitz.

Segundo tudo o que se sabe, ele não era alguém que participasse diretamente da matança, que tenha fuzilado, abatido alguém a pancadas, ou aplicado o mortal Zyklon-B nas câmaras de gás. E também não há qualquer imputação nesse sentido nas 85 páginas dos autos de acusação do Ministério Público.

Mas Gröning esteve no campo de extermínio como homem da SS, a força paramilitar nazista. Assim como cerca de 7 mil outros alemães, dos quais nem cem sequer foram às barras do tribunal.

Oskar Gröning não fez segredo de seu passado. Ele depôs em juízo contra um assassino de Auschwitz. Anos atrás, concedeu entrevistas detalhadas sobre sua época no campo de extermínio, tanto à revista alemã Der Spiegel quanto à britânica BBC. Ele não estava foragido, nem se escondeu, mas sim levou uma vida perfeitamente normal na Alemanha, durante quase 70 anos.

Então, por que agora este processo contra o homem de 93 anos de idade? A resposta revela mais sobre a Justiça alemã pós-1945 do que sobre os criminosos de então: durante décadas só foram julgados por homicídio aqueles a quem se podia imputar um crime pessoalmente.

Também sobre Gröning houve longos inquéritos, os quais foram, contudo, encerrados 30 anos atrás, por falta de um objeto de acusação concreto. Foi somente há quatro anos, com o processo de John Demjanjuk, o vigia da SS no campo de extermínio Sobibor, que a perspectiva dos juízes alemães mudou.

Desde esse veredicto, qualquer um que tenha pertencido ao pessoal dos campos pode ser acusado de cumplicidade em assassinato – mesmo que só tenha trabalhado como cozinheiro. E assim voltou a se ampliar significativamente o círculo dos sujeitos a persecução. Agora, quando praticamente nenhum dos implicados vive mais, e os que restam possuem 90 anos ou mais.

Por isso neste momento o processo tem, acima de tudo, caráter simbólico. Por um lado, para a Justiça alemã: com uma sentença para Oskar Gröning, uma geração de juízes se distancia da tradição mais do que questionável de seus antecessores.

E para o próprio réu: se, como ele próprio conta, há décadas sofre pelo ocorrido, tem pesadelos constantes, então uma confissão aberta, uma admissão de culpa, um gesto de arrependimento e o pedido de perdão também poderão ajudá-lo.

Ao contrário de outros réus idosos, ele não se esconde atrás de atestados sobre seu estado de saúde ou procura escapar do tribunal, mas sim utilizou essa chance de contrição já no primeiro dia do processo. Por esse fato, Gröning merece reconhecimento. E é de se torcer para que a mensagem chegue sobretudo àqueles que até hoje acham Adolf Hitler um grande alemão.

Não menos essencial é a importância deste processo para os também já idosos sobreviventes de Auschwitz. Muitos deles viajaram dos mais diversos cantos do mundo até Lüneburg, a fim de, possivelmente pela última vez, deixar documentado todo o mal que sofreram. E para, mais uma vez, publicamente e diante de um dos agressores, expressar sua dor, que 70 anos não fizeram passar.

Nesse contexto, o veredicto, a ser pronunciado daqui a três meses, é quase secundário. A sentença moral para os autores do genocídio e seus ajudantes já foi dada há muito tempo. E, mesmo que Oskar Gröning seja condenado, é antes improvável que ele vá para a prisão, devido à sua idade avançada. Pois, "em nome do Povo", a Alemanha de hoje é bastante misericordiosa – ao contrário do nacional-socialismo.