Polêmica entre Israel e Suécia
26 de agosto de 2009O governo de uma democracia que respeita a liberdade de imprensa não pode intervir na cobertura de notícias pela imprensa livre e não é responsável por seu conteúdo. Consequentemente, o governo não pode assumir essa responsabilidade nem se desculpar.
Este princípio vale também no atual conflito entre os governos israelense e sueco em torno de um artigo do tablóide sueco Aftonbladet, onde o Exército israelense é acusado de em 1992 ter retirado órgãos de palestinos mortos.
As acusações do premiê israelense e de seu ministro do Exterior ultraconservador, de que o governo sueco estaria acobertando um artigo supostamente antissemita, são absurdas. É forçada a acusação de que os relatos sobre pretensas práticas do Exército israelense sejam antissemitismo.
É mesquinho negar a permissão de trabalho para jornalistas suecos em Israel ou até mesmo organizar um boicote a uma loja de móveis suecos. São reações perigosas, que só podem ter como objetivo a escalada desse desagradável conflito.
Se o Exército israelense considera falsas as hediondas acusações, ele pode usar meios legais contra elas. Tanto na Suécia quanto em Israel existem o recurso do direito de resposta e a queixa por crime de difamação. Segundo o Aftonbladet, o artigo em questão se basearia somente em declarações de familiares de palestinos. O jornal fica devendo provas consistentes como uma autópsia ou algo semelhante.
O governo sueco naturalmente está agindo de forma correta ao não assumir a responsabilidade por investigações provavelmente pouco sérias. Mas o ministro do Exterior da Suécia, Carl Bildt, poderia fazer uma crítica ao artigo. Bildt preferiu, todavia, o papel de teimoso, o que por sua vez irritou o lado israelense (a embaixadora sueca em Israel condenara o artigo, sua declaração, no entanto, desapareceu da página de internet da embaixada).
O artigo sobre o suposto comércio de órgãos parece ter trazido à tona um conflito mais profundo. Há muito que o governo israelense considera a orientação da União Europeia (UE) e, sobretudo, da Suécia, como muito favorável aos palestinos. Já que a Suécia detém no momento a presidência rotativa da União Europeia e como Bildt pretende iniciar uma visita planejada há muito tempo a Israel, o governo israelense deve ter considerado este o momento apropriado para acertar as contas com a Suécia.
Com esse tema, o chefe de governo conservador Benjamin Netanyahu pode ganhar certamente também alguns pontos em sua política interna. Além disso, a simulada exaltação desvia a atenção das críticas europeias à política de assentamentos de Israel.
Seguindo a lógica de Netanyahu, se ele estivesse realmente interessado no combate ao antissemitismo, deveria romper imediatamente as relações com os Estados Unidos, pois dos EUA vêm dezenas de sites com propaganda antijudaica e racista.
Da mesma forma como no conflito das caricaturas entre o governo dinamarquês e o mundo árabe, três anos atrás, a liberdade de imprensa é um bem precioso, que deve ser defendido.
Sentimentos religiosos supostamente feridos ou, como no caso atual, um antissemitismo forçado, não pode servir de veículo para limitar a liberdade de imprensa. Um artigo ruim não justifica a briga entre governos e Estados. A União Europeia deve agora apoiar também o governo sueco, da mesma forma como fez anteriormente no caso do governo dinamarquês.
Existe, no entanto, uma diferença fundamental: no caso anterior, governos árabes e líderes religiosos incitaram manifestantes a atos de violência. O conflito não deve e nem pode escalar a este nível em Israel.
Ambos os lados devem apostar na distensão. No contexto dos esforços para a paz no Oriente Médio, as boas relações entre a UE e Israel e entre a UE e os palestinos são importantes demais para serem postas em risco por causa de um único artigo de jornal.
Autor: Bernd Riegert
Revisão: Roselaine Wandscheer