O Partido Democrata demonstra respeito. Bernie Sanders é recebido na Casa Branca. E Hillary quase só encontra elogios para seu rival. Na próxima terça-feira (14/06), "Bernie" vai competir pela última vez – nas primárias no Distrito de Columbia, onde se encontra a capital Washington.
Mas mesmo uma vitória na capital americana não muda a aritmética. Hillary ganhou as prévias democratas. Então é lógico que o presidente Barack Obama quebre o seu silêncio e declare oficialmente o seu apoio à candidatura dela. Ele se permitiu bastante tempo para tal, comportando-se de forma neutra diante dos pré-candidatos de seu partido – um comportamento que mereceu o respeito de Sanders e seus apoiadores.
Mas agora Obama quase não pode esperar para se lançar na batalha eleitoral. Pois ele conhece muito bem os pontos fortes e fracos de Hillary. Como oradora, seu talento é apenas moderado. O de Obama, em contrapartida, é excepcional. Nos quesitos credibilidade e popularidade, as notas da provável candidata democrata são péssimas. O atual presidente, por outro lado, tem enormes índices de aprovação.
Obama deverá utilizar esse capital político até o último dia da eleição. É certo que:não sem interesse próprio, já que ele quer garantir o seu legado político. Pois um presidente como Donald Trump desfaria parcialmente a reforma do sistema de saúde, poria em questão acordos de livre-comércio e desistiria do papel dos EUA como poder disciplinador global.
Algo que, na opinião dos democratas, deve ser evitado. Nesse ponto, Obama, Hillary e Sanders estão do mesmo lado. É somente uma questão de dias, talvez semanas, até que o rival intrapartidário de Hillary passe a apoiar a candidatura da ex-primeira-dama.
A retirada de Sanders acontece a prestação. O senador de Vermont tem de mostrar consideração frente a seus milhões de seguidores. Muitos deles ficaram completamente empolgados com o revolucionário de cabelos grisalhos. E, em parte, eles ainda o estão – mas agora também estão decepcionados diante da derrota de Sanders nas prévias democratas.
Mas resta um consolo aos seguidores de "Bernie": ele está obrigando Hillary a assumir os temas eleitorais "dele" – mais dinheiro para educação e saúde, investimentos bilionários na infraestrutura, aumento de impostos para os ricos, uma regulação mais severa de Wall Street.
Assim, Hillary deverá, politicamente, dar uma guinada à esquerda, sabendo que também nos EUA eleições podem ser ganhas a partir do centro. Dessa forma, ela aceita um risco adicional. No entanto, a ex-secretária de Estado terá de pagar esse preço se quiser atrair o eleitorado de Sanders. De outra forma, não será possível unir o Partido Democrata depois que as primárias tenham acabado.
O jornalista Miodrag Soric é correspondente da DW em Washington.