A resposta do eleitorado espanhol às aspirações separatistas na abastada região da Catalunha é um ressurgimento do nacionalismo em seu país. Quem quiser se separar ilegal e teimosamente, como almeja o governo catalão, será severamente punido. Essa é a resposta dada por todos os principais partidos, agora também pelos socialistas.
Sob a pressão do novo nacionalismo, o primeiro-ministro socialista se opôs veementemente à independência catalã. Pedro Sánchez não pode se dar ao luxo de ser considerado um "traidor" ou "errante sem pátria".
Termos como "unidade da nação", "pátria" e "grandeza nacional" determinaram a decisão de voto de muitos. Manutenção de fronteiras internas e, em breve, talvez também externas.
A legenda populista de direita Vox foi quem mais se beneficiou do debate emocional. Com seu protesto contra separatismo, direitos das mulheres, imigração, tolerância social e abertura, o partido responde a uma profunda necessidade de certos espanhóis, talvez também de algumas espanholas.
Há um anseio nostálgico pelos bons e velhos tempos, supostamente estáveis e seguros. Os apoiadores de Vox acreditam com toda a seriedade que o ditador Franco ou os conquistadores inescrupulosos da América Latina foram, em retrospecto, quem fez a Espanha "grande".
O partido ainda conta com apenas 10% de preferência eleitoral, mas como em outros países europeus esse pântano de direita pode crescer e se tornar o movimento político central, a exemplo da Polônia, Hungria, Itália ou Áustria.
Essa tendência já existe há muito tempo, e o pleito deste domingo provou que ela agora também fincou pé na Espanha. As eleições para o Parlamento Europeu no fim de maio mostrarão, provavelmente, que o fenômeno do novo nacionalismo atinge, por diferentes razões, a maioria dos Estados da União Europeia, com diferentes graus de intensidade.
Após a presente eleição, a Espanha continua profundamente dividida. Não se vislumbra estabilidade política. Os democrata-cristãos, de quem os direitistas de Vox se separaram, também se voltam para a direita, enquanto encolhem dramaticamente. Os liberais estão indecisos. Na ala esquerdista, não se vê maioria para formação de governo que não dependa de partidos regionais separatistas.
Abalada pela crise econômica e pela questão catalã, a Espanha necessita uma liderança clara para realizar reformas urgentes. A previdência social tem de ser salva da falência, os sistemas educacional e de infraestrutura necessitam de investimentos, a fuga de jovens talentos deve ser sustada. É preciso conter ainda mais o endividamento.
Enquanto as alas políticas em Madri estiverem preocupadas apenas consigo mesmas, tudo isso continuará pendente de solução.
Embora a economia ainda esteja crescendo solidamente, o desemprego continua muito alto. Dessa forma, a Espanha não conseguirá se segurar no longo prazo. A grande maioria dos espanhóis ainda apoia a UE e reconhece o valor da adesão a ela. Mas isso pode mudar se a situação econômica piorar, se os bancos entraram novamente em crise.
Se depois dos "traidores da pátria", Vox precisar de uma nova imagem interna de inimigo, os "burocratas em Bruxelas" são a escolha óbvia. Os populistas de direita alemães, franceses, austríacos e italianos estão fazendo a campanha eleitoral europeia exatamente com esse absurdo e apelando por mais "nação". Em breve, a Espanha pode deixar de ser um porto seguro para os pró-europeus.
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