Também na Suécia, os anos gloriosos da social-democracia estão chegando ao fim. É verdade que a queda do partido que governou o país por décadas, abençoando-o com um Estado de bem-estar social sem precedentes, não foi tão profunda quanto se esperava. Da mesma forma, a ascensão dos populistas de direita Democratas Suecos também não foi tão tempestuosa como sugeriram as pesquisas e artigos de opinião.
Como em outros países europeus, o aumento do extremismo de direita na Suécia foi acompanhado por um interesse da mídia que, na verdade, parecia estar literalmente catapultando-o em direção ao governo. E, como em toda parte, a grande maioria dos eleitores decidiu contra os populistas e sua retórica envenenada.
Muitos suecos estão preocupados com o novo rumo que seu país está tomando agora. O Estado modelo escandinavo, que durante décadas apareceu como uma superpotência humanitária, alcança assim a normalidade europeia.
A Suécia parecia estar acima do egoísmo nacional, da política de confronto e da xenofobia. Os populistas de direita agora mostram que esse pensamento e sentimento estavam apenas reprimidos sob uma superfície afeita à harmonia.
Os suecos não são necessariamente pessoas melhores. Eles também estão atormentados pela incerteza e medos difusos de empobrecimento, que se transformam em xenofobia.
O resultado eleitoral na Suécia comprova que a lenda de uma classe de joões-ninguém e economicamente "desfavorecidos", que supostamente impulsionou o surgimento da neodireita, é um disparate.
A Suécia vive um sólido crescimento econômico, com pouco desemprego e um Estado de bem-estar funcional. No entanto, o abismo entre ricos e pobres também se intensificou um pouco mais ali, o que alguns cidadãos consideram um ataque às suas reivindicações de uma vida tranquila e segura.
Os culpados são rapidamente encontrados na figura dos imigrantes, e os Democratas Suecos retiram o seu sucesso de uma sensação de insegurança que eles implantam nas pessoas. Eles vivem da exclusão e pregam o nacionalismo sueco, que parece antiquado e quase ridículo, mas altamente eficaz. Isso os torna irmãos de espírito da AfD na Alemanha e de partidos similares na Europa.
Os partidos tradicionais na Suécia terão que desistir de sua vida por demais tranquila e assumir posturas mais claras. Eles também precisam de um novo estilo de liderança. O tipo de político que até agora foi tão bem-sucedido – tão discreto quanto possível, o bom vizinho sindicalista – não tem mais nenhuma chance.
Isso ficou demonstrado no debate televisivo pré-eleitoral, dominado retoricamente pelo carismático populista de direita Jimmie Akesson. Os social-democratas e os conservadores precisam líderes partidários de caráter que possam se apresentar e alcançar o coração de seus eleitores – em vez de burocratas sem perfil.
Além disso, os atuais blocos de esquerda e direita devem ir além de seus interesses e buscar semelhanças democráticas com as quais possam formar novas coalizões. A Holanda mostrou que isso é possível.
E, se forem espertos, serão capazes de resistir aos apelos populistas por um quinhão de poder. O exemplo do Movimento 5 Estrelas na Itália mostrou como a legenda radical de direita Liga assumiu o papel de liderança e minou completamente o partido majoritário.
Ainda não se sabe se os líderes dos social-democratas e conservadores suecos serão capazes de tal ato de discernimento político e maturidade. Suas primeiras declarações após a eleição tendem para outra direção. Mas o seu próprio futuro e o do seu país como uma democracia estável dependem disso.
Uma nova era se inicia na Suécia, a coexistência amigável de vizinhança acabou. Políticos e cidadãos devem aprender a lidar abertamente com os conflitos na sociedade. Acima de tudo, eles devem se opor, com sua visão de uma Suécia moderna, à linguagem envenenada dos populistas de direita.
De certa forma, é uma pena, mas infelizmente a Suécia liberal se tornou agora como todos os outros países – cheia de dúvidas, insegurança à procura de lugar num mundo perigoso e confuso.
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