Foi o próprio chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, que elevou as expectativas em relação a sua viagem a Kiev a um patamar, no qual muitos temiam que ele não conseguisse alcançá-lo. "Não me juntarei a um grupo que fazem algo com um bate e volta e uma fotografia. Se eu for, será para tratar de coisas concretas", afirmou, há cerca de um mês.
Scholz não foi sozinho a Kiev, mas acompanhado de outros dois chefes de governo da Europa Ocidental – o presidente francês, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi. Por trás dessa troica, estão as três das maiores potências econômicas e pesos-pesados políticos da Europa.
O presidente da Romênia, Klaus Johannis, se uniu a eles em Kiev, como representante dos países do Leste Europeu. Apesar de a visita ter sido rápida, e repleta de fotografias, ela foi também, na verdade, bem mais do que um simples bate e volta.
Altas expectativas
A viagem dos três líderes ocidentais deve ser compreendida, primeiramente, como um sinal da solidariedade europeia aos ucranianos. Mas quanto maior o valor simbólico da visita, mais importante era o que os convidados tinham a oferecer. Principalmente Scholz, sobre quem os olhares ucranianos estavam repousados.
Após mais de 100 dias de guerra, o chanceler federal alemão finalmente embarcou no trem para Kiev, naquela que pode ter sido a viagem mais importante de sua carreira política.
A liderança ucraniana esperava sobretudo duas coisas: o envio de mais armamentos pesados do Ocidente e o "sim" à candidatura ucraniana para fazer parte da União Europeia (UE). No que diz respeito às armas, o resultado foi apenas satisfatório. Apesar de prometer enviar mais armamentos pesados, Scholz pouco falou sobre prazos para a entrega. Isso deve demorar ainda, mesmo com a ênfase dada por Scholz ao fato de que soldados ucranianos já estão sendo treinados na Alemanha há algum tempo.
Na segunda questão, porém, o chanceler não decepcionou, entendendo o momento. Como a nação mais poderosa da UE, e também em razão de sua responsabilidade histórica, ele falou claramente: "A Ucrânia faz parte da família europeia." Com essa frase, Scholz assumiu em Kiev o papel de liderança que um chanceler deve ter. Ele não poderia ter se dado ao luxo de mais nada.
O fato de [o presidente ucraniano, Volodimir] Zelenski ter imediatamente chamado a decisão de um "resultado histórico" foi uma sábia demonstração de unidade junto a Europa – apesar de todas as esperadas diferenças que possam surgir durante o longo caminho entre o status de país candidato até o ingresso na UE. "Estou satisfeito", declarou o presidente ucraniano.
O futuro como parte da Europa
Devido à hesitação e demora do governo alemão nos últimos meses, a confiança dos ucranianos – e dos europeus do leste – na fiabilidade alemã pareceu estremecida. Nessa viagem, Scholz conseguiu se livrar, ao menos parcialmente, da sua imagem de líder hesitante.
Para Zelenski, esse dia era mais do que a perspectiva formal da adesão ucraniana à UE. Seu país enfrenta uma guerra. Seus compatriotas vêm demonstrando coragem e espírito de luta que não se via na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Eles precisam resistir ao novo diariamente. A perspectiva de um futuro como parte da UE os ajuda. Quando Scholz diz que eles também pertencem a Europa, eles compreendem que sua luta por liberdade não é em vão. Zelenski também precisava dessa mensagem para sua política interna, diante à iminência de meses difíceis.
Outro fato também foi de grande ajuda a Kiev. "A Ucrânia tem que ganhar essa guerra", afirmou o presidente francês, enviando um sinal claro não somente para Kiev, mas também, para Moscou. Estas palavras também trazem alívio e esperança no Leste.
Scholz compreendeu a mensagem
A viagem, certamente, não satisfez todas as expectativas de Kiev. A Ucrânia deve ter paciência, principalmente em relação a armamentos pesados. Para Zelenski, no entanto, a principal mensagem do dia pareceu ser ainda mais importante. Antes da viagem ele disse: "Precisamos que Scholz assegure o apoio da Alemanha à Ucrânia". Não deveria haver nenhum equilíbrio entre a Ucrânia e as relações com a Rússia.
Scholz entendeu a mensagem. Ao apoiar a Ucrânia em seu caminho para a UE, ele assegurou que sua viagem fosse considerada um sucesso. Isso não deve ser subestimado. Scholz e Macron vinham sendo considerados como os maiores céticos na Europa no que diz respeito à Ucrânia. O duo franco-alemão representa a fracassada política ocidental de aproximação com a Rússia. O Acordo de Minsk, negociado entre Berlin e Paris junto a Moscou e Kiev, está morto, e não é mais uma opção para Zelenski.
O fato de os três líderes em Kiev se posicionarem claramente em apoio à Ucrânia como parte da Europa é, por si só, uma nova perspectiva. Para Scholz, foi também uma oportunidade para silenciar as críticas em relação à sua hesitação. Mas, para que isso possa durar mais do que um momento, é preciso que o chanceler mantenha o rumo atual.
--
Rosalia Romaniec é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal da autora, não necessariamente da DW.