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Conferência para Líbia trouxe avanços, mas não uma guinada

Rainer Hermann, FAZ & Klett-Cotta
Rainer Hermann
2 de fevereiro de 2020

Duas semanas após a cúpula de paz em Berlim, para alguns o copo está meio vazio, para outros, meio cheio. Mas um fim do conflito líbio segue longe, e é como a quadratura do círculo, opina Rainer Hermann, do jornal "FAZ".

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Soldado de uniforme de camuflagem diante de veículo militar
Tropas do Governo Líbio do Acordo Nacional, reconhecido pela ONU, lutam contra general Khalifa HafterFoto: Getty Images/AFP/M. Turkia

A conferência de 19 de janeiro, em Berlim, para a paz na Líbia visava encerrar a influência de protagonistas externos. Duas semanas depois, essa meta permanecem muito distante. Os chefes de Estado e governo participantes tampouco conseguiram acordar quanto a um mecanismo de sanções a fornecimentos de armas contrários às resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Do lado positivo, o consenso quanto a um cessar-fogo na região trouxe um arrefecimento da violência, pelo menos temporário. Além disso, existe uma chance realista de que nas próximas semanas vá se reunir pela primeira vez em Genebra uma comissão militar formada por cinco representantes de cada um dos dois partidos em guerra, com a função de estabelecer modalidades de trégua que levem a um armistício.

A cúpula de Berlim acordou sobre a criação de três comissões, formadas por número igual de representantes do governo do primeiro-ministro Fayez al-Sarraj em Trípoli, e do general rebelde Khalifa Hafter, em Bengazi. Além do grupo militar, serão criadas comissões para temas políticos e econômicos.

No entanto são graves as violações ao conteúdo e espírito de Berlim. Nesta quinta-feira (30/01), o encarregado especial da ONU para a Líbia, Ghassan Salamé, queixou-se perante o Conselho de Segurança da organização que, desde que foi fechado, o cessar-fogo de 12 de janeiro já foi infringido 110 vezes, e está ameaçado de ficar sendo só tinta num papel.

A maior parte da responsabilidade cabe às tropas de Hafter, as quais aproveitaram a trégua para ampliar sua importante base aérea de Al Khadim, também de grande relevância para os Emirados Árabes Unidos. Além disso, o general rebelde continua avançando sobre a cidade de Misrata, embora tenha sido rechaçado no fim de janeiro.

Com razão, Salamé se queixa de que alguns dos protagonistas aparentemente se escondem atrás de uma solução política, mas continuam almejando uma vitória militar. Ao que tudo indica, ele se referia a Hafter e seu principal apoiador, os Emirados Árabes Unidos, Egito, Rússia e França.

Na última semana, de fato, o porta-voz de Hafter declarou, inequivocamente, que quem participa de conferências internacionais não é porque procure uma solução política: pelo contrário, ele está convencido que só "as armas e a munição" podem trazer uma solução.

Outro indicador da fragilidade das resoluções de Berlim foi o recente duelo verbal entre os presidentes da França, Emmanuel Macron, e da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, acusando-se mutuamente de atiçar mais fogo ao conflito na Líbia. Ambos estão interferindo: Paris apoia Hafter com armamentos poderosos, enquanto Ancara segue fornecendo a Sarraj armas e mercenários, com o fim de fortalecer as tropas do governo em Trípoli, atualmente em posição de inferioridade.

Não há o menor sinal de que vá diminuir a ingerência dos atores externos: o preço da Líbia é alto demais para que desistam. Assim, os Emirados e o Egito desejam ver seu homem, Hafter, como ditador militar do país africano; a França vê no general o homem adequado para proteger a zona do Sahel a partir do norte.

A Rússia, por fim, quer ter o controle sobre a rota de migração para a Europa, assim como impedir o planejado gasoduto do Chipre até o continente europeu. Por isso agora Moscou se colocou do lado da Turquia. Esta, por sua vez, se aproveita do vácuo deixado pelos Estados Unidos e a Europa, não só para travar na Líbia seu conflito com os Emirados, mas também para voltar a ter influência na luta pelas reservas de gás natural do Mar Mediterrâneo, da qual Ancara ameaça sair de mãos abanando.

Para todos esses interesses divergentes, a Líbia é uma grande superfície de projeção. Por isso, um fim pacífico do conflito terá que ir muito além de Berlim. É praticamente uma quadratura do círculo.

Rainer Hermann é jornalista do diário alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ).

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