A crise da Nokia
18 de janeiro de 2008A União Européia pode ser culpada de muita coisa, mas não do fato de a fabricante de celulares Nokia querer fechar sua fábrica em Bochum. A suspeita que muitos políticos expressaram sem reflexão, de que a União Européia teria subsidiado a transferência da fábrica para a Romênia, não corresponde à verdade.
Foi na verdade um reflexo, que se manifesta toda vez que surge uma dificuldade na política interna: alguém tem de ser o culpado, de preferência a insensível máquina burocrática de Bruxelas. Não é a primeira vez que se aponta com o dedo para Bruxelas, embora o problema tenha sua origem em questões domésticas. Já aconteceu em outras ocasiões e agora se repete no caso da Nokia.
O gigante finlandês da telefonia móvel vai se mudar para um parque industrial na Romênia, cuja construção foi parcialmente financiada em sua fase inicial, há sete anos, com recursos da União Européia. Isto ocorre por toda parte na UE, inclusive em regiões do Leste da Alemanha que têm infra-estrutura fraca, ou mesmo no Vale do Ruhr, que também recebe fundos dos cofres da UE.
Portanto, por mais que doa aos trabalhadores agora afetados em Bochum, é um procedimento normal uma empresa européia transferir sua produção para onde encontrar as melhores condições dentro da UE. Isto faz parte do mercado interno, desejado por todos.
Talvez os finlandeses também não tenham ficado muito felizes quando a Nokia decidiu sair da Finlândia para Bochum, na década de 1990. Os políticos alemães não reclamaram então.
Parece não ser muito acentuada a consciência de que no mercado interno europeu às vezes há vencedores, mas também às vezes perdedores. Barroso, o presidente da Comissão Européia, tem razão ao chamar a atenção para o fato de que a economia alemã no geral ganha com a expansão do mercado interno.
Aliás, não são apenas empresas estrangeiras que transferem sua produção para outros países da UE; muitas alemãs também o fazem. Na maioria das vezes, o que dita decisões desse tipo são os custos – tais como mão-de-obra, energia, transporte e impostos – e não as subvenções.
Subsídios são, quando muito, um fator de propaganda a mais com que os municípios tentam atrair empresas. Essa concorrência existe também dentro da Alemanha e dentro do estado da Renânia do Norte-Vestfália.
Bochum, Essen, Oberhausen, Colônia ou Düsseldorf: todas se tornam concorrentes quando se trata de atrair indústrias. E o mesmo acontece no patamar europeu entre a Alemanha, a Eslovênia ou a Romênia. Bem-vindos ao mercado interno sem limites. (lk)
O jornalista Bernd Riegert é chefe da sucursal da Deutsche Welle em Bruxelas.