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O candidato de Putin

Ingo Mannteufel (as)11 de dezembro de 2007

A indicação do primeiro vice-primeiro-ministro Dimitri Medvedev para ser o próximo presidente da Rússia significa a manutenção do rumo político definido por Vladimir Putin, opina o analista da DW-WORLD Ingo Mannteufel.

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Há meses que a única pergunta que se ouvia na política russa era quem seria o sucessor de Vladimir Putin. Conforme a legislação russa, o atual presidente não pode se candidatar para um terceiro mandato nas eleições de março de 2008.

E Putin tomou sua decisão: Dimitri Medvedev, primeiro vice-primeiro-ministro da Rússia e presidente do conselho de diretores da Gazprom, deverá se tornar, com o apoio do Kremlin, o próximo presidente da Rússia. E Putin deverá se tornar primeiro-ministro.

Com base no que se viu nas eleições parlamentares ocorridas no início de dezembro, é praticamente certo que Medvedev vencerá a eleição já no primeiro turno, em 2 de março de 2008. Afinal, a máquina de propaganda do Kremlin é excelente, os assim chamados "recursos administrativos" funcionam sem dificuldades. E as últimas dúvidas sobre o resultado das eleições serão dissipadas pelas forças de segurança russas.

Diante dessa situação política, não adianta também reclamar da falta de perspectivas para uma democracia russa. As vagas e provavelmente também prematuras esperanças de uma rápida democratização da Rússia já foram destruídas há algum tempo.

Com a opção por Medvedev, Putin tomou uma decisão corajosa e respondeu uma série de perguntas – sobre si e sobre o rumo do país.

Ingo Mannteufel
Ingo Mannteufel

A era do presidente Putin terminará em março de 2008. Dimitri Medvedev deverá ser o presidente durante os próximos quatro anos – e muito provavelmente até bem mais do que isso. Medvedev não se encaixa de forma alguma na definição de presidente-tampão, aquele que apenas esquentaria o lugar para Putin durante um certo tempo. Nesse aspecto, Putin se manteve fiel à sua palavra – e isso apesar de seus adversários e mesmo de seus bajuladores: afinal, Putin sempre disse que não violaria a Constituição para se manter no cargo.

Mas o fim da era presidencial de Putin não será o seu fim como o cérebro central da política russa. Putin – provavelmente no papel de primeiro-ministro – continuará tendo uma grande influência na política, especialmente porque, com Medvedev, não se espera nenhuma grande mudança de rumo político.

O amigo de longa data de Putin ajudou a formatar a atual política desde o começo e é responsável por ela, e isso no cumprimento de suas atuais tarefas. Medvedev se manterá convictamente fiel ao atual objetivo de Putin: a modernização da potência Rússia. Para Putin, o fiel tecnocrata Medvedev é o candidato ideal para manter o rumo definido pelo atual presidente sem precisar apelar a truques constitucionais.

No Ocidente, o presidente Medvedev terá a pecha de ser oriundo do "sistema Putin". Também a sua atual função de presidente do conselho de diretores da Gazprom não necessariamente colaborará para a sua popularidade na Europa devido à má imagem da gigante russa do setor de energia.

Por outro lado, entre as opções existentes na atual elite russa, Medvedev não é o pior candidato, muito menos entre os que vinham sendo cotados como potenciais sucessores de Putin. O jurista oriundo de São Petersburgo é considerado uma das cabeças mais liberais da elite do Kremlin. Além disso, ele não tem qualquer ligação direta com o serviço secreto soviético ou pós-soviético. E, aos 42 anos, ele representa a nova Rússia, com a qual a Europa – e também o Ocidente – precisa aprender a conviver.

Mas a escolha de Putin não deverá agradar a todas as facções do Kremlin. Putin foi e é o único elemento de coesão dos grupos que governam a Rússia. As conseqüências da mudança do ocupante do cargo de presidente para o acesso a importantes recursos financeiros e econômicos deverão se tornar visíveis muito lentamente, mas esse processo não ocorrerá sem tensões.

A pergunta é se as primeiras fissuras na elite do Kremlin se tornarão visíveis ainda antes das eleições em março e, com isso, ainda poderão colocar em risco todo processo de troca de poder. Nesse caso, a situação pode ficar quente também para Putin, que colocou sua herança política nas mãos de Medvedev.

Ingo Mannteufel é diretor da redação russa da DW-WORLD.