Opinião: Coalizão com Putin é necessária para combater EI
Uma coalizão com a Rússia na luta contra o chamado "Estado Islâmico" (EI) é uma necessidade do momento. Os presidentes da França e dos EUA, François Hollande e Barack Obama, parecem pensar nessa direção. A Alemanha deveria se aliar a esse projeto – mas sem a ilusão poética de uma parceria com Moscou. E também sem a ideia de que, no Oriente Médio em colapso, paisagens democráticas irão florescer nos próximos anos, assim que o presidente sírio, Bashar al-Assad, for afastado do poder.
Afinal, é claro que o presidente russo, Vladimir Putin, não é um verdadeiro parceiro de espírito. A política agressiva do Kremlin contra a Ucrânia e a anexação da Crimeia, ilegal à luz do direito internacional, não devem ser esquecidas. Por isso, as subsequentes sanções impostas contra Moscou devem ser mantidas. É claro que o ditador sírio Assad não pode ser um parceiro de verdade. Afinal, a espiral de violência na Síria também é, em parte, obra dele. A sua responsabilidade pelos mais de 250 mil mortos e pela onda migratória é inegável.
O interesse do presidente Putin em participar de uma coalizão contra o "Estado Islâmico" também não advém de nenhuma consideração humanitária, mas de interesses claramente geopolíticos. E, com certeza, o Kremlin está usando o choque do Ocidente frente aos atentados terroristas em Paris para superar o seu isolamento internacional, para impor sua política e para se consolidar como uma superpotência reconhecida. Desde 2011, o apoio da diplomacia russa a Assad também tem culpa pela guerra na Síria.
Então, isso tudo significa que uma cooperação anti-"Estado Islâmico" com a Rússia e, assim, de fato também com Assad deve ser descartada a todo custo? De forma alguma! Problemas internacionais não são resolvidos somente por um círculo de pessoas que compartilham os mesmos interesses, envoltas numa atmosfera agradável e com um resultado perfeito.
Além disso, a Turquia, país-membro da Otan, e obviamente a Arábia Saudita também contribuíram para a guerra da Síria. E entre os grupos de oposição a Assad do chamado Exército Livre da Síria encontram-se pessoas que seriam capazes de praticar um genocídio contra milhões de alauitas após a queda do governante sírio. Seriam eles melhores parceiros? E uma última declaração: muitos dos atuais problemas foram criados devido à perigosa política de intervenção dos Estados Unidos nos tempos do presidente George W. Bush.
Em suma: em vez de declarações moralistas sobre com quem não se deve cooperar, os atentados em Paris devem, finalmente, levar a uma realpolitik com um foco claro. Para tal, são necessários objetivos e pré-requisitos concretos. Em primeiro lugar, a seita apocalíptica do chamado "Estado Islâmico" deve ser completamente aniquilada – na Síria, no Iraque e também na Europa. Isso inclui a pressão sobre os apoiadores do EI nos países do Golfo e uma cooperação militar estreita com a Rússia.
Afinal, não adianta lamentar que Moscou tenha se estabelecido na Síria com uma base militar própria e seja um fator importante. O fato de Putin tirar vantagens propagandísticas disso não deve ser de nenhuma importância, desde que o Ocidente continue firme em sua política para a Ucrânia.
Em segundo lugar, após a derrota do EI, toda a região do Oriente Médio deve ser pacificada e estabilizada por meio de um organismo semelhante à Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa – certamente com o alto preço de que Assad continue no poder num resto de Síria. A alternativa, no entanto, seria deixar que a espiral de violência continuasse, assim como o sofrimento sem fim e o perigo de que o conflito se alastre para a Europa, África e Ásia.