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Opinião: Casa Branca em ritmo de caos

Martin Muno
Martin Muno
7 de março de 2018

Mais uma renúncia no governo Trump, e mais uma vez temores quanto à estabilidade da presidência dos Estados Unidos. Mas por trás do aparente caos há um método, opina o jornalista Martin Muno.

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Vista da Casa Branca, Washington
Casa Branca é palco de um entra e sai desde a posse de Trump, em janeiro de 2017Foto: Getty Images/AFP/M. Ngan

O recorde negativo de permanência na Casa Branca é de dez dias. Foi por esse tempo que Anthony Scaramucci ocupou o cargo de diretor de comunicações no governo de Donald Trump antes de ser demitido, no fim de julho de 2017.

A ex-secretária de Justiça Sally Yates pelo menos conseguiu ficar um dia a mais. E aí foi dispensada na briga sobre a proibição de entrada nos Estados Unidos para originários de certos países, decretada por Trump. Além disso, desde a posse do republicano, em 20 de janeiro de 2017, duas dúzias de outros altos funcionários abandonaram o posto por decisão própria.

Martin Muno é jornalista da DW
Martin Muno é jornalista da DW

No fim de fevereiro último, a sucessora de Scaramucci, Hope Hicks, renunciou à direção de comunicações. E nesta terça-feira (06/03), o assessor econômico Gary Cohn desistiu, exasperado: ele tentara em vão demover seu chefe dos planos de impor tarifas sobre a importação de aço e alumínio. E isso, tendo sido Cohn o responsável pelo único êxito digno de nota, até agora, no mandato de Trump, como mentor da reforma tributária aprovada no fim de dezembro por ambas as câmaras legislativas.

Em Cohn, Trump perde um dos últimos partidários do livre-comércio e da globalização entre seus assessores diretos. À "America first" (América em primeiro lugar) do presidente, ele justapunha um "but not alone" (mas não sozinha). Seu possível sucessor deverá ser o atual assessor comercial Peter Navarro, que apoia a política isolacionista trumpista.

Parece ser uma mera questão de tempo até ser a vez de o próximo alto funcionário partir. Segundo fontes internas, para o chefe de gabinete da Casa Branca, John Kelly, já começou a contagem regressiva. Ele próprio já definiu o trabalho junto ao Salão Oval como "castigo de Deus".

Talvez igualmente desista o assessor de segurança Herbert Raymond McMaster, cuja relação com Trump é mesmo descrita como tensa. Ou o presidente despedirá seu odiado secretário de Justiça, Jeff Sessions? Este já se dispôs diversas vezes a entregar o cargo, mas até agora Trump se limitou a expô-lo publicamente como incapaz.

Num clima de caos assim, não há mais como pensar em trabalho objetivo, até porque diversos postos na administração estão vagos. Acrescente-se o fato de que em várias questões importantes o líder dos EUA não tem um posicionamento próprio consistente, como foi o caso na recente disputa sobre o endurecimento das leis sobre armas nos EUA.

E, ao que parece, para Trump tanto faz a opinião de seus correligionários. Ele rechaçou bruscamente a sugestão de líderes republicanos para pelo menos reconsiderar as tarifas alfandegárias anunciadas. É peculiar que o presidente da Câmara dos Representantes, Paul Ryan, não tenha apoiado Trump na questão das tarifas, já que até o momento o "fiel Ryan" era tido como seguidor leal do chefe de Estado.

No geral, contudo, a resistência entre os republicanos permanece moderada. Por vezes eles se alinham com os oposicionistas democratas, votando contra seu próprio presidente, por outras criticam Trump publicamente. Mas até agora não se escutou um "este homem tem que cair fora".

Análises que começam com manchetes de efeito como "Donald – Esqueceram de mim" ou "House of chaos" são demasiado superficiais. Pois por trás do caos há método. O ex-assessor do presidente Steve Bannon resumiu na frase: "Lenin queria destruir o Estado, e essa é a minha meta também. Quero fazer tudo desmoronar e destruir todo o atual establishment."

Tal filosofia também está por trás do slogan de campanha trumpista "Vamos secar o pântano". Esse pântano é a arrogante casta política de Washington, da qual faz parte também uma boa parte dos companheiros de partido de Trump. Por isso ele não atenta nem para seus assessores, nem para seus correligionários.

O único público que lhe interessa são os "angry white men", os operários de indústria descartados do cinturão da ferrugem, no noroeste americano. Para estes, tanto faz quem assessore o presidente: ele lhes promete empregos e um futuro – só que nos setores de ontem. As metas políticas de Trump para a indústria são tão antiquadas quanto as para a sociedade.

Se nem especialistas nem parlamentares são capazes de deter Trump em sua rota de destruição, então a tarefa cabe à população. A próxima oportunidade será em 6 de novembro, para quando estão marcadas as eleições para o Congresso nos EUA.

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Martin Muno
Martin Muno Imigrante digital, interessado em questões de populismo e poder político.