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Atacar instituições multilaterais pode sair pela culatra

Rainer Hermann, FAZ & Klett-Cotta
Rainer Hermann
5 de outubro de 2018

Casa Branca rejeitou pedido de Haia para levantar as sanções ao Irã – quem não reconhece a jurisdição internacional coloca em risco não apenas os outros, mas também a si mesmo, diz Rainer Hermann, do jornal alemão "FAZ".

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Assessor de Segurança Nacional na Casa Branca, John Bolton, durante entrevista coletiva em Washington
Assessor de Segurança Nacional na Casa Branca, John Bolton, rejeitou pedido de Haia de suspender sanções contra o IrãFoto: picture-alliance/newscom/M. Theiler

Não foi nenhuma surpresa que John Bolton tenha rejeitado, indignado, o veredicto do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) de Haia, segundo a qual Washington deveria revogar parte das novas sanções impostas ao Irã, e questionado a mais alta corte das Nações Unidas.

Ao fazer isso, o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca apenas seguiu a linha daquilo que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, havia dito alguns dias antes, em Nova York, durante a Assembleia Geral da ONU.

No plenário, Trump havia atacado a "ideologia do globalismo", assim como qualquer instituição que interferisse na soberania nacional de um país – especialmente na dos Estados Unidos. Afinal, toda nação deveria viver de acordo com seus costumes e suas regras. Disso, o governo Trump deduz também o direito de impor amplas sanções a outro país.

E isso que o Tribunal Internacional de Justiça nem mesmo pediu a Washington que retirasse todas as sanções, mas apenas aquelas que ameaçam a segurança do tráfego aéreo e impedem o envio de ajuda humanitária.

Mas isso não sensibiliza uma pessoa como Bolton, que colocou à prova todos os tratados dos EUA relacionados ao Tribunal Internacional de Justiça, cujos julgamentos eles considera "politicamente instrumentalizados e ineficazes" apenas porque os considera errados.

Sua crítica não se dirige unicamente contra o pedido dos juízes para suspender parte das sanções. Em vez disso, ela questiona a própria existência do tribunal. Essa é uma situação perigosa, pois Trump e Bolton nem procuram mais aparentar que respeitam as instituições multilaterais e o direito internacional. Pelo contrário, eles alardeiam a lei do mais forte.

Com isso, colocam em risco uma arquitetura de segurança multilateral que, mesmo que não tenha conseguido impedir várias guerras e conflitos desde o fim da Segunda Guerra, ao menos fornece uma plataforma para chamar todos os envolvidos a assumir suas responsabilidades. Não é o mais forte que deve prevalecer – é a lei.

Claro, as Nações Unidas precisam de uma reforma. Por exemplo, o Conselho de Segurança bloqueia demais a si mesmo e fica incapacitado de agir. Mas isso não justifica ignorar as instituições da ONU.

Mesmo os países mais fortes deveriam estar interessados em preservá-las e trabalhar com elas. Algum dia também eles podem não estar mais entre os mais fortes e precisar que a lei se cumpra.

Rainer Hermann é jornalista do diário alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung.

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