Na Argentina, a cada dois anos são eleitos um terço dos senadores e a metade dos deputados. Há dois anos, Cambiemos, a coalizão do presidente Mauricio Macri, obteve 34% dos votos em todo o país. Neste domingo (22/10), o resultado foi muito mais claro. O governo alcançou 42% dos votos e terá um terço dos senadores e 41% dos deputados.
Governar será, agora, muito mais fácil para o Cambiemos. Até agora, o presidente precisava negociar arduamente suas maiorias parlamentares. Dos 91 projetos de lei enviados pelo governo, apenas 37 foram aprovados. A situação está agora muito mais cômoda para Macri.
E o governo já planeja uma ofensiva de reformas para os próximos meses, que podem contar também com o apoio de setores da oposição e governadores interessados em negociar acordos vantajosos para suas províncias.
Em todo caso, a Argentina está mostrando que o país é governável sem o populismo peronista. Isso é algo novo na política argentina. Macri provou que seu projeto político tem continuidade e não é apenas um mero interregno entre dois governos peronistas: uma condição indispensável para a chegada dos tão desejados investimentos estrangeiros.
Essas eleições podem ser o começo de uma nova era na política argentina e abrem as portas para uma possível reeleição de Macri em 2019. Sua agenda de reformas pode continuar. A melhor prova disso é que até mesmo os sindicatos moderados estão dispostos a pelo menos conversar sobre a flexibilização do mercado de trabalho, o que antigamente era um tabu. Os próximos grandes passos deverão ser reformas na legislação fiscal e na lei do mercado de capitais. "E isso é só o começo", afirmou Macri numa conferência econômica internacional em Buenos Aires.
Não foi a política que mudou a sociedade, mas a sociedade que mudou a política. Na verdade, o último governo de Cristina Fernández de Kirchner tornou a mudança possível, de tão grosseiros que foram o comportamento errático, as mentiras, a cleptocracia e o populismo descarado do governo Kirchner.
Agora chegou a conta. E não só política, mas também jurídica. O vice-presidente do antigo governo e também o ministro mais poderoso, que decidia sobre os grandes contratos públicos, foram processados por graves crimes de corrupção. Também os juízes perceberam que os ventos mudaram na opinião pública e começaram a agir com vigor.
As finanças da antiga presidente, da sua filha e de seu filho estão sendo examinadas e desde já está claro que muita coisa não bate. Alguns de seus funcionários e protegidos mais próximos já estão na cadeia. O mesmo pode acontecer com ela.
A isso soma-se uma possível acusação por traição à pátria. A suspeita: um pacto secreto com o Irã para encobrir um atentado terrorista a um centro cultural judaico, em 1994. Resta esclarecer por que o promotor público que investigava o caso foi achado morto com um tiro na cabeça, em sua residência, em 2015, um dia antes de ele informar o Parlamento sobre os resultados de suas investigações.
A Argentina não vai chorar seu passado recente. Resta esperar que essa nova era ganhe força e profundidade. Isso seria importante não apenas para o país, mas para toda a região.
----------------
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App