Foi rápido. Na sua primeira entrevista à imprensa, o novo ministro alemão do Interior, Horst Seehofer, deixou claro como pretende conduzir o debate sobre integração e Heimat [termo traduzido como "terra natal", mas com significado que também se aproxima de identidade nacional]: por meio da polarização e da exclusão.
Sua frase "O islã não pertence à Alemanha" contém exatamente o acelerador de incêndio para inflamar ainda mais as fissuras sociais no país. E isso num momento em que aumenta o número ataques a mesquitas e instituições islâmicas.
Isso não é perigoso apenas para a convivência harmoniosa no interior da Alemanha, mas acaba sendo uma ameaça também para a coesão da União Europeia. Pois o bloco tem poucas chances de sobreviver num contexto de exclusão e separação. A exigência de Seehofer de suspender o tratado de Schengen por tempo indeterminado pode levar a mais insegurança ainda.
O fato de Seehofer ter se decidido por esse tom não é apenas perigoso. Trata-se também de uma oportunidade desperdiçada. O debate acalorado que o político bávaro da União Social-Cristã (CSU) desencadeou – uma vez mais – é prova contundente disso.
Enquanto um lado, furioso, vira as costas, outros aplaudem de forma estridente: "Até que enfim, alguém que fala o que pensamos."
Uma pessoa sensata não incendiaria ainda mais esse debate com declarações agressivas. Especialmente por ser novo no cargo, ele tem a chance de se aproximar dos problemas de muitos alemães – das inseguranças, dos sentimentos de ameaça – de forma mais investigativa. Quatro milhões de muçulmanos vivem na Alemanha. Isso é um fato. Dizer que a religião deles não pertence a nós acaba ajudando as forças extremistas.
Por que Seehofer não pergunta, simplesmente, que tipo de islã pertence à Alemanha – obrigando, assim, as associações islâmicas desse país a ajudarem a organizar e a assumirem a responsabilidade por uma convivência pacífica? Por que ele não tenta trabalhar com as muçulmanas e os muçulmanos que estão firmemente agarrados à nossa Constituição? Aqueles muçulmanos que lutam pela igualdade de direitos de mulheres e homens, assim como contra a discriminação de homossexuais?
Esse é o espírito com o qual o novo governo deveria lidar com os novos desafios da integração. E seria uma possibilidade construtiva de abordar os temores daqueles que votaram no partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), permitindo sua entrada no Parlamento alemão.
Não foi por acaso que a Alemanha levou quase meio ano para formar um governo. Trata-se de um reflexo da crise de identidade da Alemanha como um país de imigrantes. Focar permanente o islã é, nesse contexto, apenas mais uma prova de uma impotência generalizada.
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