Quando, na última sexta-feira (11/08), a parcela de 50 milhões de crédito da grande acionista Etihad Airways não entrou na conta da Air Berlin, os alarmes tocaram na central da segunda maior companhia aérea da Alemanha. Ficou claro para todos os envolvidos que os xeques dos Emirados Árabes Unidos haviam sustado o fluxo de dinheiro em direção a Berlim.
O fato não é surpreendente, pois a Etihad – antes uma das mais bem-sucedidas linhas aérea do Golfo Pérsico, ao lado da Emirates e da Qatar – também tem seus próprios problemas. Sua estratégia de participação financeira nas concorrentes em apuros de capital fracassou fragorosamente.
Talvez a intenção fosse deixar as concorrentes pensarem que assim estavam em segurança, para depois deixá-las definhar, e por fim recolher os restos e assumir seus voos. Com a Air Berlin e a Alitalia, contudo – ambos casos em que, no fim das contas, os contribuintes é que pagam o pato –, a Etihad incorporou duas verdadeiras máquinas de queimar dinheiro.
Só a empresa berlinense está passando adiante uma montanha de dívidas de 1,2 bilhão de euros. Desde 2011, quando adquiriu as ações da Air Berlin, a Etihad já injetou mais de 1,5 bilhão de euros em sua combalida subsidiária – sem sucesso palpável, como agora se constata. Mesmo assim, ainda no segundo trimestre de 2017 os xeques prometeram, até mesmo por escrito, que ainda permaneceriam a bordo pelo menos um ano e meio. A promessa não se cumpriu.
Todo passageiro que voou nos últimos meses com a Air Berlin pôde constatar ao vivo como a companhia ia mal. Cancelamentos, atrasos enormes, voos terceirizados, para linhas aéreas em parte bem estranhas, eram fatos corriqueiros. Possivelmente ela também tem acumulados pedidos de indenização no valor de milhões de euros.
Na reunião dos acionistas da Air Berlin, em meados de junho, em Londres, a diretoria ainda fazia como se tudo estivesse bem. Antes, já circulavam especulações intensas sobre a posição precária da linha, falava-se de garantias dos cofres públicos. Tudo exagero, as coisas estão sob controle – eram as pílulas calmantes que os chefes distribuíram entre os acionistas. Falência? "Nem pensamos nisso!"
E agora, menos de dois meses mais tarde, a admissão de fracasso: um soco de nocaute em vez de pílulas para acalmar. Quão cega estava a gerência, para não ver como a matriz Etihad ia mal, já na época?
Mais uma vez é o contribuinte que arca com o prejuízo: 150 milhões de euros de garantias estatais, senão a Air Berlin teria que suspender imediatamente suas atividades, em plena temporada de férias. Poupar esse caos aos viajantes pelo menos é um motivo plausível por que o governo federal alemão liberou a verba.
A Air Berlin recebe agora a conta por numerosas falhas estratégicas cometidas ao longo dos anos, e que pioraram a cada nova decisão, a cada mudança de chefia. Para se fechar um buraco, criavam-se no mínimo dois novos problemas.
Agora é hora de dividir o espólio. A Lufthansa, que já assumiu da berlinense 38 aviões e respectiva tripulação, vai ver o que ainda é utilizável e provavelmente equipar com os restos a sua própria linha de voos baratos, a Eurowings.
Cabe torcer para que o maior número possível dos 8.500 funcionários da Air Berlin – que em sua grande maioria são quem menos tem culpa pelo desastre empresarial – possa manter seu ganha-pão. Se assim for, os 150 milhões de garantias estatais terão tido ao menos uma razão de ser.