Nunca antes na história dos Estados Unidos se viu algo assim: o chefe da Casa Branca demitiu o diretor do FBI, James Comey, num momento em que este conduzia investigações que poderiam ser perigosas para o presidente. Comey investigava tentativas da Rússia de influenciar a campanha eleitoral à presidência americana: com o objetivo final de respaldar o caminho de Donald Trump à Casa Branca e prejudicar sua rival política, Hillary Clinton.
Nas últimas semanas, o governo americano rechaçou todas as acusações de ter cooperado com o Kremlin durante a corrida eleitoral de 2016. Mas investigações do FBI ainda estão em curso. Demitir o chefe da autoridade policial antes do fim dessas investigações deixa um gosto político amargo. Agora não apenas democratas temem que Trump nomeie um diretor do FBI que logo coloque um ponto final nas investigações. E que, assim, a verdade sobre a influência de Moscou nunca venha à tona.
A decisão de Trump prejudica a credibilidade das instituições políticas em Washington. A reputação da classe política deve alcançar níveis baixos novamente, e o descontentamento político deve aumentar. O presidente supostamente quer um recomeço para o FBI. Trump usa como justificativa para a demissão de Comey o comportamento do diretor no caso envolvendo e-mails de Hillary.
Mas ninguém comprou a versão de Trump, nem mesmo seus colegas de partido. Afinal, foi o próprio Trump que elogiou a conduta de Comey no caso – depois de as investigações afetarem fortemente a reta final da campanha de sua adversária. Demitir o diretor do FBI, meses depois, justamente por isso faz alguns questionarem os motivos de Trump.
A aposentadoria compulsória de Comey poderia provocar um terremoto político em Washington. A decisão lembra o caso Watergate. Afinal Richard Nixon também demitiu um investigador especial que havia se inteirado das maquinações obscuras do presidente. Mesmo assim Nixon teve de renunciar: não se conseguiu esconder a verdade por muito tempo. Trump pode até demitir Comey, mas os democratas – e também alguns republicanos – vão continuar investigando se a equipe de campanha do presidente estabeleceu contatos com autoridades russas. Até agora faltam provas. Mas isso pode mudar.