Opinião
9 de agosto de 2011Dez anos depois, ao que parece, nada mudou: os Estados Unidos da América são tidos como responsáveis por toda a miséria no mundo. A Alemanha ocupa-se apenas de si mesma – a não ser que a operação militar que matou o fundador da Al Qaeda, Osama bin Laden, desperte os moralmente indignados. E, dez anos depois do pior atentado da história, surgem livros querendo provar cientificamente que o 11 de Setembro de 2001 não foi um dia que mudou o mundo.
Tais tentativas desesperadas de classificar como um acontecimento histórico qualquer uma catástrofe que é praticamente impossível de ser entendida por critérios humanos talvez sejam compreensíveis do ponto de vista psicológico – mas politicamente são errôneas e moralmente, reprováveis: afinal, o 11 de setembro de 2001 mudou o mundo como quase nenhum outro dia das últimas décadas. Há um antes e um depois. A data é uma cesura, na qual submergiram visões de mundo, modelos de pensamento e teorias políticas. Muitas das lacunas ali surgidas não puderam ser preenchidas até hoje.
Isso vale sobretudo para o Ocidente, que nos últimos dez anos frequentemente preferiu sinalizar uma compreensão precipitada em vez de se posicionar com conceitos e propostas claros frente aos desafios impostos pelo terrorismo islâmico e seus apoiadores. Um dos exemplos mais absurdos foi a reação amedrontada a um punhado de caricaturas malfeitas do profeta Maomé.
Mas até isso foi superado pelo debate – levado a cabo sobretudo na Alemanha – se a morte de um assassino em massa como Osama bin Laden, em nome do qual a cultura e a religião islâmicas foram instrumentalizadas, estaria em conformidade com o Direito Internacional.
Tais debates demonstram a força com que os atentados de setembro de 2001 abalaram o sistema ocidental de valores: George W. Bush – que certamente não pertence ao rol dos mais destacados presidentes dos EUA – afirmou dois dias após os atentados terroristas: "Iremos defender a liberdade e tudo o que é bom e justo". Essa frase simples, mas decisiva, perdeu o sentido diante da justificada indignação com Guantánamo, Abu Ghraib e os milhares de mortos deixados pelo combate ao terrorismo. A evidência e a clareza da posição de Bush carregam hoje uma mácula. Isso não só é uma ofensa às vítimas do 11 de Setembro, às pessoas no World Trade Center que tiveram que optar entre morrer num inferno de chamas ou pular de uma altura de 400 metros – isso inverte, em última instância, os papéis de algozes e vítimas.
Esquecidas foram também as consequências concretas e tomara que irreversíveis da frase de Bush: que o Afeganistão não está mais à mercê de um bando de teocratas fanáticos que desprezam os direitos humanos; que o Iraque se livrou de um ditador e se encontra no caminho da democracia; e que também as revoluções no Oriente Médio são, no final das contas, resultado de um claro e reiterado compromisso com a democracia e a liberdade.
Já o terrorismo jamais pode ser aceito. Nem mesmo como "linguagem de substituição da violência", como ele é ocasionalmente interpretado por pessoas supostamente tolerantes. Isso é o que o especial multimídia da Deutsche Welle evidencia, em todas as facetas: através de histórias pessoais ou de regiões inteiras e também através das consequências para todos nós – dez anos depois do 11 de Setembro. Um dia que mudou o mundo.
Autor: Marc Koch
Revisão: Roselaine Wandscheer