Opinião: UE precisa reduzir aspirações
20 de outubro de 2017Há alguns anos o ápice da crise financeira parecia ter sido superado, quando uma das questões políticas mais importantes em Bruxelas era se os partidos vencedores nas eleições parlamentares do bloco europeu deveriam determinar o presidente da Comissão Europeia. Hoje, isso parece algo absurdamente irrelevante. Pois não há mês em que não se constatem desenvolvimentos novos e profundamente perturbadores que atingem as bases da União Europeia.
Nós já quase nos acostumamos com a iminente saída do Reino Unido do bloco. O Brexit e todas as suas consequências já põem a UE profundamente em xeque. A Hungria e a Polônia se despedem do antes óbvio consenso em relação ao Estado de direito. Devido ao separatismo catalão, a Espanha se encontra na pior crise de Estado que enfrenta há décadas.
A migração descontrolada para a Europa fez com que o continente enfrentasse uma dura prova de fogo, abrindo trincheiras ideológicas que eram inimagináveis até pouco tempo. Por todas as partes, cresce o apoio a partidos que querem fazer recuar ou até mesmo extinguir a União Europeia.
Fora da Europa, a situação não parece melhor. Seja Trump, Erdogan ou Putin, parceiros tradicionais se tornam inseguros isolacionistas, até mesmo oponentes. E, retornando à UE: o assassinato de uma jornalista investigativa poderia ser esperado na Rússia, mas no pacífico Estado-membro de Malta? Até onde chegamos!
Tudo isso acontece ao mesmo tempo. O que era óbvio alguns anos atrás não parece mais evidente. Mais e mais integração europeia como princípio fundamental? Isso é coisa do passado.
A questão é como a Europa vai lidar com a nova complexidade. Angela Merkel, até agora líder incontestável, saiu enfraquecida das eleições alemãs. Ela não poderá mais exercer esse papel com a autoconfiança de antes.
Emmanuel Macron se apresenta como inovador e salvador da proposta europeia. Mas o menino-prodígio está perdendo rapidamente o seu charme, não somente na França. Se as suas ideias político-financeiras fossem implementadas, isso aconteceria às custas da Alemanha. E não sendo suficiente: atualmente, Macron advertiu a UE contra novos acordos de livre-comércio com países terceiros, pois supostamente os cidadãos estariam cansados da globalização, da qual deveriam ser protegidos. Retirar-se de um mundo desconfortável – é assim que se parece a ideia europeia?
É verdade que, atualmente, o zeitgeist sopra na direção da ideia de nação, identidade, isolamento. A iniciativa do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, de expandir o euro e o Espaço Schengen, zona de livre-circulação dentro da UE, para todos os países-membros não é somente distante da realidade, mas também contraproducente.
O que a UE precisa na atual situação não são grandes visões, mas soluções claras: conter a migração ilegal é algo com que todos podem concordar, como também a intensificação da cooperação digital - mais cooperação em questões de defesa pode ser benéfico para todos. São coisas que a atual cúpula da UE em Bruxelas pode trazer. No momento, não é possível fazer mais do que isso, mas menos também não se deve fazer.
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