A "decisão interna britânica" de se desligar da União Europeia deve ser respeitada, disse a chanceler federal Angela Merkel ao Parlamento, nesta terça-feira (28/06). Isso é o que se esperaria de uma chefe de governo alemã.
Mas aí seguiram-se declarações atipicamente claras: antes que os britânicos comuniquem oficialmente a saída, não haverá nenhuma negociação "nem formal, nem informalmente". Isso é "líquido e certo", assegurou, e reforçou: "Nem formal, nem informalmente". Não vai haver "escolha só das vantagens" para Londres. Sim, desta vez a palavra mais emocional do debate coube à chanceler federal.
Havia um tom de mágoa. Mágoa após anos de casamento, que acabam num "grande processo de divórcio" (como definiu o ex-presidente da bancada parlamentar democrata cristã Volker Kauder) que exigirá meses e anos. O mais tardar quando Merkel evocou a força que resta na Europa, percebeu-se seu esforço em manter coesos os 27 Estados restantes.
A premiê provavelmente não gostou do debate que se seguiu. Os oradores dos dois partidos conservadores da coalizão governamental, CDU-CSU, criticaram – expressamente e nas entrelinhas – os posicionamentos dos social-democratas do SPD, e vice-versa. Aproveitou-se a oportunidade para falar ao parceiro de coalizão – e também contra ele.
Essa briga entre CDU-CSU e SPD não foi apenas preparação para a campanha eleitoral de 2017. Os parceiros de coalizão também se distanciaram entre si no debate atual em relação ao ritmo do Brexit. De um lado, se advertiu contra "decisões apressadas", do outro já se acusou o primeiro-ministro britânico, David Cameron, de estar desperdiçando tempo. No momento ainda são pequenas diferenças. Mas toda quebra começa com uma pequena fissura.
Também isso ocupará Merkel. Foi o que se deslumbrou, em suas duas palavras finais, quase já de saída. Ela falou de tempos difíceis nesta "encruzilhada histórica". Essas últimas palavras, depois de 20 minutos de declaração governamental pré-redigida, sugeriram que a situação é mais série. Ainda mais séria.