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Para que tantos dias mundiais?

5 de fevereiro de 2019

Quando se trata de datas comemorativas, não há limites para a criatividade: do Dia de Pedalar para o Trabalho ao Dia Mundial da Nutella. E a mídia acaba caindo nessa armadilha, critica o jornalista Fabian Schmidt.

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Foto de potes de Nutella
Dia da Nutella também é Dia da Internet Segura, do Meteorologista e do Fondue de Chocolate, exemplifica Fabian SchmidtFoto: picture-alliance/dpa/MAXPPP/L. Thevenot

Sim, eu também estou aproveitando um dia mundial como gancho para este artigo de opinião. Na verdade, meu desejo é que isso seja deixado de lado no futuro. Meu pedido é que não se façam mais reportagens, galerias de fotos, editoriais ou entrevistas só porque alguém teve a ideia de proclamar um dia mundial.

Nesta terça-feira, 5 de fevereiro, celebra-se o Dia Mundial da Nutella, como recentemente fiquei surpreso de ler numa brochura publicitária do meu supermercado. Essa foi a gota d'água que finalmente me inspirou a escrever contra tal insanidade e transmitir a vocês, queridos leitores e leitoras, uma visão da amarga realidade de trabalho da categoria jornalística.

E depois descobri outra coisa: o Dia Mundial da Nutella também é o Dia da Internet Segura, Dia do Meteorologista, Dia do Fondue de Chocolate e Dia do Monarca Ocidental. E o dia 5 de fevereiro é apenas um dia do ano – escolhido quase aleatoriamente.

Todos os outros dias do ano estão ocupados da mesma forma, seja por amantes de peixe-boi, pessoas que gostam de usar calças de jogging no escritório, de vestir fantasias ridículas em seus animais de estimação ou por aqueles a quem apetece comer frozen yogurt.

É pior que o calendário de santos da Igreja Católica, ao qual quase ninguém mais dá atenção. Somente em feriados importantes os meios de comunicação ainda recorrem a ele.

Nós, profissionais do jornalismo, estamos sempre à procura de temas – e tais dias mundiais vêm bem a calhar. E assim acabamos caindo na armadilha que algum profissional de relações públicas nos armou.

Não importa se eles trabalham para organizações internacionais de caridade ou para o comércio. Nós jornalistas cometemos o erro de aceitar temas impostos de fora, deixando-nos assim cooptar.

Funciona desta forma: "Que temas temos na semana que vem? Há algum dia mundial? Ah: Dia de Pedalar para o Trabalho" – aqui há certamente um aspecto sobre o qual ainda não escrevemos!

É certo que os colegas das redações de notícias, política e economia são movidos por tópicos atuais e seguramente não dependem de dias mundiais. Mas os responsáveis pelo planejamento de longo prazo e editores de áreas como ciência, meio ambiente ou cultura frequentemente se interessam por um ou outro dia mundial em reuniões de pauta nas quais é discutida a próxima semana ou o próximo mês.

E seguramente há também algum espertinho que, em certo momento, passou os olhos (não necessariamente leu) num artigo tão inspirador sobre este ou aquele dia mundial, indagando: "Já escrevemos sobre isso?"

A mídia orbita em torno de si mesma. Todo mundo tem que fazer isso porque os outros já o fizeram. Em vez de deixar a redação encontrar e definir temas próprios, muitos órgãos de comunicação vivenciam uma verdadeira reciclagem de tópicos. Pois a produção necessária tem que sair de alguma maneira.

Então uma coisa leva à outra. E aqueles que querem chamar atenção criam dias mundiais cada vez mais obscuros – porque os gritos mercadológicos funcionam.

Evidentemente, alguns dias mundiais foram certamente lançados com objetivos nobres, como o Dia Mundial de Combate à Aids. Mas mesmo tais dias, que são tratados pela mídia como uma intocável obrigação, devem sempre ser questionados jornalisticamente.

Afinal, o HIV não é mais uma sentença de morte se os infectados tomarem os medicamentos adequadamente. E hoje toda criança sabe que sexo seguro é importante. Temos realmente que nos ajoelhar todos juntos uma vez por ano e recitar o – certamente ainda válido – velho mantra dos anos 1980 de que os "preservativos protegem"? Ou escrever sobre as últimas taxas de infecção, especialmente se não houver nada substancial a ser relatado?

O mesmo se aplica aos aniversários: menos é mais. Sim, os bombardeios em Hiroshima são historicamente importantes porque foram eventos terríveis. Eles merecem ser completamente explicados e balizados.

Mas não seria suficiente celebrar os aniversários redondos? É realmente necessário ritualizar também o 73º e a aproximação do 74º aniversário de Hiroshima neste ano, algo que aposto que muitos meios de comunicação vão relatar em detalhes? Não se pode esperar até o 75º aniversário em 2020?

Ou a cobertura anual deve servir apenas para cultivar ressentimentos profundamente arraigados e lembrar que os americanos puseram fim à Segunda Guerra Mundial com um golpe mortal?

E, no ano passado, quando se falou aqui e ali do 32º aniversário da catástrofe nuclear de Chernobyl: isso teria sido um indício de que os editores estariam montando seus próprios cavalos de batalha antinucleares? Ou eles fazem isso sem pensar? Porque pertence ao calendário anual como a primavera, o verão, o outono e o inverno?

Devemos fazer questionamentos críticos semelhantes tanto nos dias mundiais quanto em aniversários: qual o sentido de tal data comemorativa? Em caso de dúvida, é melhor simplesmente ignorar e, em vez disso, definir temas interessantes próprios! Essa é a melhor maneira de servir ao público.

E a Nutella? Deve ficar na geladeira, que é o lugar dela.

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Fabian Schmidt
Fabian Schmidt Jornalista especializado em Ciência, com foco em tecnologia e invenções.