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Otan deveria agir agora na crise ucraniana

Henry Nau (md)23 de abril de 2014

Ocidente precisa usar "um pouco de força" o quanto antes, para evitar escalada do conflito mais tarde, opina o cientista político Henry Nau, ex-assessor da Casa Branca. Para ele, meios militares facilitam diplomacia.

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Na Ucrânia, já se pode ver o uso de "um pouco de força" de forma antecipada – mas por apenas um lado. Foi assim que a Rússia ocupou a Abkházia e a Ossétia do Sul, na Geórgia; anexou a Crimeia; e hoje tenta dominar o leste e, talvez, todo o resto da Ucrânia. Enquanto Europa e Estados Unidos não conseguem acreditar no que Moscou está fazendo, Vladimir Putin já recorre a "um pouco de força" para se encaminhar em direção a seu próximo objetivo.

Desde 2009, a Rússia dobrou suas forças militares ao longo da fronteira com os Estados bálticos – Estônia, Letônia e Lituânia. Enquanto isso, o presidente Barack Obama garante, como deixou claro em entrevista coletiva na Casa Branca, que "opções militares não estão sobre a mesa em relação à Ucrânia, porque esta não é uma situação que seria favorável a uma solução militar". Seria esse também o caso se a Rússia surpreender o Ocidente usando "um pouco de força" de forma antecipada no Báltico?

Henry R. Nau
Cientista político Henry Nau: "diplomacia falha, se não for apoiada pela força"Foto: Nau

Obama, que não tinha experiência de negociação ao entrar no Salão Oval, está aprendendo agora. Diplomacia não é algo que substitui o uso da força, que seria usada, por sua vez, caso a diplomacia falhe. De fato, a diplomacia falha se não for apoiada pela força. E quando a negociação falha, é necessária muito mais força.

Putin sabe disso. Ele prepara e envolve sua diplomacia com base na força. Ele não quer guerra: quer expandir o domínio e a influência russa de forma pacífica. E ele sabe que a melhor maneira de conseguir isso é ser o primeiro a usar um pouco de força, especialmente quando os Estados Unidos estão relutantes em usar qualquer força que seja, depois de terem enfrentado duas guerras, no Afeganistão e no Iraque.

Putin expandiu os gastos com defesa na Rússia em 79% na última década e planeja aumentar mais em 44% nos próximos três anos. Um exemplo está no enclave de Kaliningrado, que conta com "um porta-aviões gigante" de reação rápida, mísseis de longo alcance e capacidades de defesa aérea.

O presidente russo organiza, ainda, forças paramilitares que podem operar através das fronteiras com habilidade para armar protestos, perturbar a estabilidade e, eventualmente, pedir ajuda da Rússia para salvar a paz. Ele tenta incessantemente obter vantagens militares e mais áreas de influência. Na Síria, assegura instalações navais e arma a Assad; usa o Irã como aliado entre Iraque e Afeganistão e expande a influência russa na Ásia Central, enquanto os EUA deixam o Afeganistão.

Não é certo as ações da Rússia à expansão da Otan. Que ameaça concebível a Otan impôs quando se expandiu? Ela propositalmente manteve forças terrestres fora dos antigos países satélites soviéticos; fez da Rússia um parceiro na nova aliança; não levou adiante o planejado sistema de defesa de mísseis ao qual Moscou se opunha e prosseguiu com acordos de controle de armas que beneficiavam o Kremlin – o Tratado sobre Reduções Estratégicas Ofensivas (Sort), sob Bush, rebatizado de Start, sob Obama.

Claro que Estados fracos e desestabilizados, como a Geórgia e a Ucrânia, cometeram erros. Mas erros grandes o suficiente para ameaçar a Rússia?

Agora, os defensores da diplomacia lançam os mesmos argumentos, especialmente na Europa. Pedem que se rearme a Otan, argumentando que isso só vai provocar os russos. Pedem que o problema seja resolvido diplomaticamente. Mas esse tipo de diplomacia, como o do recente acordo em Genebra para aliviar a crise, apenas serve para garantir mais tempo para que os paramilitares na Ucrânia possam completar seu trabalho baseado no uso da força.

Devido ao fato de a Otan ter deixado de usar a força logo no início, o leste e talvez toda a Ucrânia estão perdidos hoje, sem um uso muito maior da força que nem a Europa nem os Estados Unidos podem digerir. Mas há uma chance de que a Otan possa acordar e usar "um pouco de força", de forma antecipada, nos países fronteiriços da Otan, que são os próximos na lista de Moscou. Se isso não acontecer, a Aliança Atlântica enfrentará exatamente o mesmo problema de ter que usar uma força maior depois e, novamente, talvez sem ser capaz de digerir a tarefa.

Sob o comando do secretário-geral Anders Fogh Rasmussen, a Otan está cogitando enviar forças terrestres para Romênia, Polônia e Letônia, aumentando e melhorando o aparato que patrulha o espaço aéreo da Otan e retomando o trabalho nas defesas antimísseis paralisadas. Em meio a toda a conversa sobre sanções e alternativas de energia de longo prazo, esses movimentos militares são a única coisa que realmente importa. Que benefícios trará reduzir a dependência europeia da energia russa após a Rússia efetivamente já ter colonizado Ucrânia, Moldávia, Polônia e os países bálticos?

Ao mesmo tempo, no entanto, é importante não cortar todos os laços cotidianos entre a Otan e a Rússia. Assim como a diplomacia não substitui a força, ações militares resolutas não substituem a diplomacia. É importante deixar aberta uma saída lateral para a Rússia, queira ela no momento ou não; convidar Moscou para observar manobras militares do lado da fronteira da Otan, se a Rússia retribuir a oferta em seu lado da fronteira; propor mais joint ventures entre empresas russas e ocidentais.

A Rússia está a anos-luz da China em termos de modernização e, com a economia totalmente dependente de energia e vulnerável à próxima crise de preços do petróleo, precisa de mais investimento estrangeiro. É importante incentivar mais o intercâmbio de estudantes, agricultores e outros grupos de civis entre a Rússia e cidadãos ocidentais, para enfraquecer a flagrante propaganda antiocidental lançada por Putin.

Henry Nau é professor na Elliott School of International Affairs na Universidade George Washington e foi assessor da Casa Branca durante o governo Ronald Reagan, entre 1981 e 1983. Ele escreveu este artigo a convite da Deutsche Welle.