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Problemas étnicos

8 de julho de 2009

O presidente Hu Jintao sempre insistiu na harmonia – também étnica – da sociedade chinesa. Porém os atuais confrontos entre uigures e han, que o afastaram da cúpula do G8 em Áquila, provam o contrário.

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A situação em Xinjiang é séria, isso é óbvio. Mais de 150 mortos, violência e contrarreações violentas entre a minoria turcomana dos uigures e os chineses han. Mesmo assim, a partida do presidente Hu Jintao da Itália surpreendeu. Afinal de contas, seu primeiro-ministro, Wen Jiabao, encontra-se em Pequim. E as forças de segurança parecem ter a situação sob controle.

Então, por que Hu se faz representar pelo conselheiro de Estado Dai Bingguo na cúpula das grandes nações? Há duas linhas de explicação possíveis, e elas nem mesmo se contradizem.

Em primeiro lugar, na realidade o presidente chinês poderia partir do princípio que seria aclamado na cidade italiana de Áquila. Pois seu país representa uma ilha de estabilidade em meio à crise econômica mundial; e tanto a China quanto a Índia sinalizaram boa vontade no tocante à proteção do clima.

Porém os choques em Urumqi colocaram o tema "minorias étnicas" novamente em pauta na China. E este é um assunto em que Hu não gosta de tocar. Pelo menos em suas conversas nos últimos dias, em Roma, ele não falou de Xinjiang. Em Áquila ele certamente teria sido abordado a respeito. A chanceler federal alemã, Angela Merkel, já o anunciara. Talvez Hu Jintao quisesse se esquivar de uma situação embaraçosa.

Segunda tentativa de explicação: a liderança chinesa considera as circunstâncias tão dramáticas que a presença no país do homem mais poderoso do Estado é indispensável. Afinal de contas, são os confrontos étnicos mais sangrentos em vários anos, e isso a poucos meses do 60º aniversário da fundação do Estado chinês, em 1º de outubro.

Entre os mitos cultivados pela propaganda da República Popular da China está o da família de povos convivendo em perfeita harmonia – ao todo há 56 nacionalidades no país. Por isso, apresenta-se o conflito como algo orquestrado de fora. A confrontação entre uigures e chineses han, armados de cassetetes e barras de ferro, não combina com essa imagem.

Hu Jintao foi quem cunhou o termo "sociedade harmônica", com o qual ele queria constar dos livros de história chinesa. Nas ruas de Urumqi, o conceito perdeu toda a credibilidade.

Será interessante observar como Pequim conseguirá sair deste impasse. O fato de os han só serem apresentados como vítimas pela mídia oficial tampouco contribuirá para o entendimento entre as etnias.

Paz, "harmonia" entre as nacionalidades só será possível quando a China admitir sua mentira vital: os uigures, e outras minorias étnicas como os tibetanos, têm motivos para se queixar. Sua "autonomia", sobre que tanto se insiste, só existe no papel.

Na realidade, os uigures são, certamente, uma minoria marginalizada em seu próprio país, já que o idioma dominante é o chinês. Quase não se encontram uigures nos setores econômicos importantes como as finanças, comunicação, petróleo e gás. O poderoso presidente do partido é sempre um chinês, assim como o chefe de polícia.

Os uigures não necessitam de ninguém de fora do país que os incite, a pressão na caldeira já é grande o suficiente. Do que precisam são direitos que possam invocar.

Autor: Matthias von Hein
Revisão: Roselaine Wandscheer