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Opinião: Coalizão com Putin é necessária para combater EI

Ingo Mannteufel
19 de novembro de 2015

Se firmada sem ilusões, parceria com Moscou na luta contra extremistas pode fazer sentido. Problemas internacionais não são resolvidos somente por pessoas que compartilham os mesmos interesses, opina Ingo Mannteufel.

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Ingo Mannteufel, chefe da redação russa e do Departamento Europa da DW

Uma coalizão com a Rússia na luta contra o chamado "Estado Islâmico" (EI) é uma necessidade do momento. Os presidentes da França e dos EUA, François Hollande e Barack Obama, parecem pensar nessa direção. A Alemanha deveria se aliar a esse projeto – mas sem a ilusão poética de uma parceria com Moscou. E também sem a ideia de que, no Oriente Médio em colapso, paisagens democráticas irão florescer nos próximos anos, assim que o presidente sírio, Bashar al-Assad, for afastado do poder.

Afinal, é claro que o presidente russo, Vladimir Putin, não é um verdadeiro parceiro de espírito. A política agressiva do Kremlin contra a Ucrânia e a anexação da Crimeia, ilegal à luz do direito internacional, não devem ser esquecidas. Por isso, as subsequentes sanções impostas contra Moscou devem ser mantidas. É claro que o ditador sírio Assad não pode ser um parceiro de verdade. Afinal, a espiral de violência na Síria também é, em parte, obra dele. A sua responsabilidade pelos mais de 250 mil mortos e pela onda migratória é inegável.

O interesse do presidente Putin em participar de uma coalizão contra o "Estado Islâmico" também não advém de nenhuma consideração humanitária, mas de interesses claramente geopolíticos. E, com certeza, o Kremlin está usando o choque do Ocidente frente aos atentados terroristas em Paris para superar o seu isolamento internacional, para impor sua política e para se consolidar como uma superpotência reconhecida. Desde 2011, o apoio da diplomacia russa a Assad também tem culpa pela guerra na Síria.

Então, isso tudo significa que uma cooperação anti-"Estado Islâmico" com a Rússia e, assim, de fato também com Assad deve ser descartada a todo custo? De forma alguma! Problemas internacionais não são resolvidos somente por um círculo de pessoas que compartilham os mesmos interesses, envoltas numa atmosfera agradável e com um resultado perfeito.

Além disso, a Turquia, país-membro da Otan, e obviamente a Arábia Saudita também contribuíram para a guerra da Síria. E entre os grupos de oposição a Assad do chamado Exército Livre da Síria encontram-se pessoas que seriam capazes de praticar um genocídio contra milhões de alauitas após a queda do governante sírio. Seriam eles melhores parceiros? E uma última declaração: muitos dos atuais problemas foram criados devido à perigosa política de intervenção dos Estados Unidos nos tempos do presidente George W. Bush.

Em suma: em vez de declarações moralistas sobre com quem não se deve cooperar, os atentados em Paris devem, finalmente, levar a uma realpolitik com um foco claro. Para tal, são necessários objetivos e pré-requisitos concretos. Em primeiro lugar, a seita apocalíptica do chamado "Estado Islâmico" deve ser completamente aniquilada – na Síria, no Iraque e também na Europa. Isso inclui a pressão sobre os apoiadores do EI nos países do Golfo e uma cooperação militar estreita com a Rússia.

Afinal, não adianta lamentar que Moscou tenha se estabelecido na Síria com uma base militar própria e seja um fator importante. O fato de Putin tirar vantagens propagandísticas disso não deve ser de nenhuma importância, desde que o Ocidente continue firme em sua política para a Ucrânia.

Em segundo lugar, após a derrota do EI, toda a região do Oriente Médio deve ser pacificada e estabilizada por meio de um organismo semelhante à Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa – certamente com o alto preço de que Assad continue no poder num resto de Síria. A alternativa, no entanto, seria deixar que a espiral de violência continuasse, assim como o sofrimento sem fim e o perigo de que o conflito se alastre para a Europa, África e Ásia.