Guerra, recessão, fome, escassez de energia. Os temas das muitas rodadas de discussão no Fórum Econômico Mundial em Davos deram poucos motivos para otimismo. O mundo vive um momento crítico: politicamente, economicamente e socialmente.
As pessoas mais poderosas do planeta, reunidas nos Alpes suíços, concordam com isso. Mas não se resolve crises apenas com conversas. É claro que é necessário intercâmbio entre política, negócios e sociedade civil. É bom que haja diálogo. Mas o Fórum Econômico Mundial de 2022 deve ser o início da ação, e aqui estão os pontos mais urgentes:
1. Exportação de grãos da Ucrânia
Os grãos da Ucrânia precisam voltar a ser exportados. Vinte milhões de toneladas de trigo estão apodrecendo em armazéns ucranianos. Os grãos são necessários para alimentar a população mundial. A Ucrânia fornece cerca de 28% do trigo comercializado no mundo, e a próxima colheita, apesar das difíceis circunstâncias atuais, já amadurece nos campos.
Trens e caminhões adicionais devem ser providenciados para transportá-lo. E o presidente russo, Vladimir Putin, precisa permitir essas exportações. Isso significa que uma pressão maior deve ser exercida sobre ele e seu regime. Se isso fracassar, milhões de pessoas em todo o mundo passarão fome ou até morrerão.
2. Embargo de petróleo
As sanções contra o agressor russo devem entrar em uma nova fase. As exportações da Rússia precisam ser massivamente dificultadas. Não deveria ser possível para o país continuar sua guerra de agressão enquanto se beneficia do aumento dos preços da energia.
O ministro da Economia alemão, Robert Habeck, quer limitar o preço do petróleo incentivando os países consumidores a formar um cartel global, o que atingiria duramente a Rússia. A ideia é boa. Afinal, não há problema de abastecimento, há simplesmente um problema de distribuição. Deve-se trabalhar imediatamente para definir como implementar isso. Sem mais longos debates, por favor.
3. Plano contra escassez de energia
A União Europeia precisa de um plano de contingência bem antes do início do inverno. A guerra na Ucrânia fez com que os preços da energia já extremamente altos em todo o mundo subissem ainda mais. Cada vez mais indivíduos não podem pagar suas contas de luz. As empresas estão tendo que reduzir a produção. A Europa pode sofrer apagões no próximo inverno. Cortes de energia longos e generalizados afetariam toda a infraestrutura crítica – saúde, telecomunicações, abastecimento de água, apenas para citar alguns.
4. Combate à recessão
Uma potencial recessão deve ser combatida com uma intervenção estatal inteligente. Em Davos, a chefe do FMI, Kristalina Georgieva, chocou os participantes ao relatar que as perspectivas de crescimento de 143 de seus países-membros haviam sido rebaixadas. Menos crescimento significa menos bem-estar. A guerra na Ucrânia, o dólar em alta e o encolhimento da economia da China devido à pandemia são as principais causas.
E agora, como seguir? O pior a se fazer é esperar a recessão chegar, é preciso combatê-la logo no início! Com cortes nos impostos, programas estaduais de apoio à proteção climática ou investimento em infraestrutura digital. Economizar agora é o caminho errado.
5. Plano para recuperação da Ucrânia
Um Plano Marshall para a Ucrânia deve ser elaborado e implementado rapidamente. Cidades estão destruídas, assim como infraestruturas importantes. Ninguém sabe quanto tempo a guerra vai durar. Mas o futuro do país deve ser garantido agora. Com investimentos em reconstrução, construção de novas casas e vias de transporte.
Não deve haver qualquer hesitação. Porque a Ucrânia precisa dessa ajuda agora, e a população precisa de perspectivas para o futuro. A luta deles contra o agressor russo é também uma luta a favor dos valores ocidentais, da democracia e do direito à autodeterminação dos Estados soberanos.
Que bom que alguns cenários de crise foram discutidos no Fórum Econômico Mundial. E que bom que políticos, empresários e todos os outros têm condições agora de agir rapidamente. Se não o fizerem, o mundo mergulhará em sua pior crise desde a Segunda Guerra Mundial.
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Manuela Kasper-Claridge é editora-chefe da DW. O texto reflete a opinião pessoal da autora, não necessariamente da DW.