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Opinião: Argentina diz "não" ao populismo

Pablo Kummetz
23 de outubro de 2017

Coalizão governista derrotou peronismo nas urnas. Governar ficou muito mais fácil para Mauricio Macri, que ganhou um voto de confiança para tocar adiante suas reformas, opina o jornalista Pablo Kummetz.

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Macri e a governadora de Buenos Aires, Maria Eugenia Vidal, comemoram resultado de eleições legislativas
Macri e a governadora de Buenos Aires, Maria Eugenia Vidal, comemoram resultado de eleições legislativasFoto: Reuters/M. Brindicci

Na Argentina, a cada dois anos são eleitos um terço dos senadores e a metade dos deputados. Há dois anos, Cambiemos, a coalizão do presidente Mauricio Macri, obteve 34% dos votos em todo o país. Neste domingo (22/10), o resultado foi muito mais claro. O governo alcançou 42% dos votos e terá um terço dos senadores e 41% dos deputados.

Governar será, agora, muito mais fácil para o Cambiemos. Até agora, o presidente precisava negociar arduamente suas maiorias parlamentares. Dos 91 projetos de lei enviados pelo governo, apenas 37 foram aprovados. A situação está agora muito mais cômoda para Macri.

E o governo já planeja uma ofensiva de reformas para os próximos meses, que podem contar também com o apoio de setores da oposição e governadores interessados em negociar acordos vantajosos para suas províncias.

Em todo caso, a Argentina está mostrando que o país é governável sem o populismo peronista. Isso é algo novo na política argentina. Macri provou que seu projeto político tem continuidade e não é apenas um mero interregno entre dois governos peronistas: uma condição indispensável para a chegada dos tão desejados investimentos estrangeiros.

Essas eleições podem ser o começo de uma nova era na política argentina e abrem as portas para uma possível reeleição de Macri em 2019. Sua agenda de reformas pode continuar. A melhor prova disso é que até mesmo os sindicatos moderados estão dispostos a pelo menos conversar sobre a flexibilização do mercado de trabalho, o que antigamente era um tabu. Os próximos grandes passos deverão ser reformas na legislação fiscal e na lei do mercado de capitais. "E isso é só o começo", afirmou Macri numa conferência econômica internacional em Buenos Aires.

Não foi a política que mudou a sociedade, mas a sociedade que mudou a política. Na verdade, o último governo de Cristina Fernández de Kirchner tornou a mudança possível, de tão grosseiros que foram o comportamento errático, as mentiras, a cleptocracia e o populismo descarado do governo Kirchner.

Agora chegou a conta. E não só política, mas também jurídica. O vice-presidente do antigo governo e também o ministro mais poderoso, que decidia sobre os grandes contratos públicos, foram processados por graves crimes de corrupção. Também os juízes perceberam que os ventos mudaram na opinião pública e começaram a agir com vigor.

As finanças da antiga presidente, da sua filha e de seu filho estão sendo examinadas e desde já está claro que muita coisa não bate. Alguns de seus funcionários e protegidos mais próximos já estão na cadeia. O mesmo pode acontecer com ela.

A isso soma-se uma possível acusação por traição à pátria. A suspeita: um pacto secreto com o Irã para encobrir um atentado terrorista a um centro cultural judaico, em 1994. Resta esclarecer por que o promotor público que investigava o caso foi achado morto com um tiro na cabeça, em sua residência, em 2015, um dia antes de ele informar o Parlamento sobre os resultados de suas investigações.

A Argentina não vai chorar seu passado recente. Resta esperar que essa nova era ganhe força e profundidade. Isso seria importante não apenas para o país, mas para toda a região.

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