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Americanos não devem esquecer crueldade gratuita de Trump

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Michael Knigge
26 de janeiro de 2019

É tentador tripudiar por o suposto "mestre negociador" ter desistido temporariamente de seu muro. Considerando-se o sofrimento causado pelo "shutdown" parcial, porém, ninguém está saindo vencedor, opina Michael Knigge.

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Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump
Foto: Getty Images/AFP/B. Smialowski

O presidente americano, Donald Trump, precisou de 35 dias para assinar um projeto de lei que poderia ter tido desde antes do Natal. Antes que ele se retirasse da mesa de negociações, em dezembro último, já fora proposto um acerto similar para se financiar temporariamente o governo, mas não o triturador de verbas públicas predileto de Trump, o muro na fronteira com o México.

Na época, o negociador-chefe gabou-se, numa reunião no Salão Oval, de que estaria "orgulhoso de fechar o governo" se não obtivesse verbas para seu muro. Por fim, após mais de um mês de shutdown, ele anunciou um acordo que os democratas estavam oferecendo desde o início: dissociar por um breve período os financiamentos do governo e do muro, enquanto se negocia sobre a segurança de fronteiras. O republicano se opunha consistentemente à ideia – até que parou de se opor e de repente, na sexta-feira (25/01), capitulou.

Alguns de seus detratores podem sentir-se tentados a tripudiar sobre "o melhor negociador do mundo" e seu fracasso em obter financiamento para seu muro de fronteira. Mas tal seria altamente impróprio diante do sofrimento desnecessário que ele causou a tantos, durante a mais longa paralisação na história dos Estados Unidos.

O inconsequente anúncio do shutdown  parcial por ele, logo antes do Natal, significou para 800 mil funcionários públicos e suas famílias terem que se virar sem salário por mais de um mês. Para não falar dos mais de 1 milhão de contratados pelo governo e que, ao contrário dos funcionários, não receberão qualquer pagamento retroativo.

Até hoje Trump e membros de gabinete bilionários como o secretário do Comércio  Wilbur Ross não foram capazes de compreender quão devastador foi seu frívolo para os muitos baixos assalariados, tanto funcionários como contratados, e suas famílias. deles tiveram que recorrer a cantinas para comer e procurar trabalho paralelo, enquanto muitas vezes eram forçados a se apresentar no emprego sem pagamento.

Quanto mais se estendeu, mais a paralisação trumpista colocou em perigo milhões de cidadãos, em numerosos aspectos da vida quotidiana. Para mencionar uns poucos: abastecimento e segurança alimentar, inspeções alfandegárias, segurança nas viagens aéreas, e portanto segurança nacional como um todo – exatamente aquilo que Trump afirmava estar promovendo com sua obstinada insistência na construção de um muro de fronteira.

Lembremos, ainda, que a palhaçada do shutdown  foi mais um severo golpe na já abalada noção de que um posto público, embora pagando menos do que um emprego no setor privado, ao menos representa uma fonte de renda mais confiável.

Assim, os milhões que foram afetados se deparam com uma solução temporária, tendo a ameaça do possível próximo shutdown  apenas três semanas adiante. Mas isso não é nada de novo para Donald Trump, um homem que, ao longo de sua carreira, jogou com o dinheiro e o bem-estar alheio sem o menor problema, contanto se fosse para engordar os próprios lucros.

Agora se pode especular o que levou Trump a se render: se o cancelamento do discurso sobre o Estado da União; o iminente colapso das viagens aéreas em algumas cidades-chave dos EUA; se foi simplesmente uma manobra para desviar a atenção do indiciamento de seu camarada Roger Stone; se sua quota de aprovação minguante; a pressão dos parlamentares republicanos – ou se tudo isso junto.

Mas trata-se de um exercício de futilidade: ninguém sabe o que se passa realmente na mente de Trump. Em vez disso, aproveitemos esta breve trégua para agradecer a todos os funcionários do governo que, ao longo de toda essa paralisação, sofreram em nome de sua dedicação a manter o país em funcionamento, apesar dos caprichos presidenciais.

Vamos torcer – se é para esse shutdown  ter qualquer consequência de longo prazo – que os americanos, sobretudo os diretamente afetados, lembrem quem se gabou de que teria orgulho de paralisar o governo. Torçamos para que os americanos lembrem do impiedoso e cruel presidente, disposto a jogar com as vidas e a subsistência alheia por um inútil muro que, no fim das contas, ele não conseguiu. Haverá uma prova de mau caráter mais condenadora do que essa?

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