Não é preciso concordar com a escolha de palavras, mas, analiticamente falando, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, já reconheceu corretamente a questão: o acordo histórico entre Israel e os Emirados Árabes Unidos pode ser visto como uma "traição" à causa palestina.
Abu Dhabi concordou com um pacto sem necessidade, que leva ao congelamento dos planos de anexação de territórios palestinos por parte de Israel, mas de forma alguma garante o fim deles – como enfatizou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, imediatamente após o anúncio do acordo.
E aqui surge a questão sobre se os Emirados Árabes Unidos não poderiam ter conseguido mais para seus "irmãos palestinos" nas negociações secretas com Israel e os Estados Unidos. Evidentemente, isso não era tão importante para eles. Os Emirados têm outras prioridades estratégicas – sua suposta solidariedade com os palestinos é pura hipocrisia.
Isso é injusto e amargo para os palestinos. Mas corresponde a uma tendência irreversível: não é mais Israel, mas acima de tudo o Irã e cada vez mais também a Turquia que são percebidos por muitos países árabes como perigosos "intrusos" em sua própria região. Conter esses dois rivais é sua maior prioridade.
Especialmente no que diz respeito ao Irã, Israel é um parceiro natural e ao mesmo tempo altamente atraente: o país está entre os mais avançados militar e tecnologicamente. E, por sua vez, vê, com razão, o Irã e seus aliados na Síria, Líbano, Iraque, Iêmen e na Faixa de Gaza palestina como a ameaça mais perigosa à sua própria segurança.
Era de se esperar que Teerã e Ancara rejeitassem o acordo com palavras duras. No entanto, o pacto também oferece a ambos a oportunidade de atuarem como incansáveis aliados dos palestinos diante de todo o mundo islâmico – a fim de sedimentar suas próprias ambições de poder e liderança na região. Também para eles, "solidariedade" com os palestinos é apenas um pretexto barato. Na realidade, trata-se de seus próprios interesses de poder.
A verdade é que os palestinos há muito perderam sua luta por um Estado verdadeiramente independente ao lado de Israel. Simplesmente a questão não está na agenda internacional atualmente. Isso não se deve apenas à política de assentamentos israelense, à mudança de prioridades dos árabes e à luta pela reeleição do presidente dos EUA, Donald Trump. É também devido à incapacidade de décadas da liderança palestina para desenvolver suas próprias visões e mobilizar, para além do protesto e da violência, apoio internacional efetivo para suas preocupações.
A culpa é deles próprios, pelo menos em parte, quando novas alianças são forjadas no Oriente Médio ignorando os interesses palestinos, e se outros Estados, especialmente da região do Golfo, logo fizerem a paz com Israel, o que certamente ocorrerá. Este é um acontecimento trágico para os palestinos – mas um bom sinal para o resto da região.
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