Perigo do ciberespaço
7 de fevereiro de 2011Nos debates sobre política de segurança na conferência internacional de Munique, o público é formado sobretudo por senhores de idade. Eles conhecem bem o assunto, desde as questões sobre o enriquecimento de urânio no Irã até o sistema antimíssil que a Otan planeja estender sobre seus países-membros.
Mas, até o momento, eles não se destacaram como peritos em mídias sociais ou em segurança na internet – embora um ou outro às vezes brinque com seu smartphone durante os debates.
E, no entanto, precisamente neste momento ocorre uma revolução na área de atuação desses senhores. Quer se trate da premiê Angela Merkel, da secretária de Estado Hillary Clinton ou do presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy: em seus discursos, todos enfatizaram o papel das mídias sociais nas reviravoltas políticas da Tunísia e do Egito.
O termo "revolução Twitter" circula entre os experts em segurança – mesmo que já existam dúvidas sobre como se verá a influência da rede depois de algum tempo, com uma certa distância em relação aos acontecimentos. Afinal, foram indubitavelmente a pobreza, o desemprego e a corrupção que forçaram os jovens sem perspectivas do Magreb a ir às ruas. E eles se mantiveram firmes, mesmo muito depois de a internet e a rede de telefonia celular terem sido desligadas. Mas uma coisa é evidente: a internet altera radicalmente a forma de pensar a política de segurança.
Tome-se por exemplo as manifestações em massa: como milhares de pessoas conseguem se coordenar e se mobilizar via Facebook e Twitter em pouco tempo, sem necessidade de partidos e líderes políticos, o mundo se vê confrontado com uma revolução sem líderes revolucionários no Egito. Em qual político se deve agora apostar? Quem poderá garantir não apenas reformas, mas também estabilidade após uma eventual renúncia do presidente Hosni Mubarak? Na Europa e nos Estados Unidos, tais questões continuam gerando enorme perplexidade.
Por outro lado, o Ocidente tem motivos para se sentir lisonjeado. A chefe de governo alemã tem razão ao constatar que foram, acima de tudo, a liberdade e a criatividade das sociedades liberais a possibilitar a revolução da internet. Europeus e norte-americanos podem se orgulhar disso; assim como pelo espírito inventivo de anônimos ativistasda internet, que conseguiram tornar inócuos muitos bloqueios das ditaduras ao criar inteligentes caminhos alternativos na rede mundial.
Mas a rede não impõe desafios apenas às ditaduras. Europeus e norte-americanos podem até não ter medo do Twitter ou do Facebook, mas temem pela segurança de suas informações. Os ataques cibernéticos a computadores de governos, instalações militares e grandes empresas ocidentais estão aumentado drasticamente.
Com atraso considerável, os políticos começam a coordenar suas medidas de defesa. Porém, no momento, as iniciativas de combate aos ataques via internet parecem mais uma colcha de retalhos do que fruto de uma estratégia convincente. Ali a chanceler federal alemã pleiteia contratos internacionais; acolá o ministro do Interior anuncia um centro nacional de ciberdfesa. E, no meio de tudo isso, os peritos da área se perguntam que armas jurídicas se disporá contra hackers agindo a partir do Oriente Médio e de onde virão as verbas para a custosa luta defensiva.
Os senhores de idade de Munique precisam urgentemente ampliar seu raio de ação: além dos sistemas antimísseis, também os ataques informáticos contam entre seus principais campos de trabalho. O tempo urge. O Ocidente inventou a internet, mas, no que concerne à ciberguerra, outras regiões do mundo estão muito mais adiantadas.
Autor: Andreas Noll
Revisão: Alexandre Schossler